sexta-feira, setembro 29, 2006

os poetas, o mar e cidade


o victor ofereceu este poema ao mundo...


a madrugada era a cidade branca. a cidade e a sua vaidade. o mar e a entrega à luminosidade menor. chegam os amigos açorianos e o sotaque. as promessas das viagens de um dia. depois a estrelinha sorriu e o sol iluminou-lhe de uma só vez todo o sorriso. subimos as escadas e havia uma taberna com homens que recordavam o poeta. tocava uma gaita de foles. tive um sonho de um segundo. depois os homens vieram com as estórias sobre o poeta. vieram as cervejas e o mar para dentro da taberna. a noite e as palavras outrora acesas. outra vez aqueles sorrisos. outra vez aqueles marinheiros e aqueles poetas. o armando é o dono do leme e leva-nos para uma traineira azul clara. o mar parece chumbo e agita-se como uma velha serpente. a traineira só começou a andar com o mestre joão e o poeta marinheiro victor. o dia rompia e nós sentados como deuses do mar esperavamos pelos cozinhados do armando. o mestre joão foi ao fundo mar e trouxe-nos velhas estórias e uma bela feijoada. depois as estrelas levaram a estrelinha por momentos. nós os naufragos da realidade continuamos à espera dos sonhos da estrelinha. bebemos o mundo e prometemos desarmar a morte com esta maneira simples de viver.
ao mestre joão dedico o mar e as estórias. ao armando que navegou ao lado do poeta e o trouxe de volta para esta viagem, aleluia. ao victor, o poeta da traineira azul, dedico a eternidade do vinho.

frutos femininos


A romã é um simbolo de fecundidade, na Grecia antiga, por exemplo, é um atributo de Hera e de afrodite; em Roma, o toucado das noivas era feito de ramos de romãzeira. Na Ásia, a imagem da romã aberta serve como expressão dos desejos, quando não designa expressamente a vulva. No Gabão simboliza a fecundidade maternal; na India, as mulheres bebiam o sumo de romã para combater a esterilidade. O bago da romã, na Grecia antiga estava relacionado com o pecado e condena aos infernos, é um simbolo de doçuras maléficas. A confirmar algumas destas reminiscências pagãs relacionadas com o simbolismo da romã, está o costume, hoje em desuso, de se comer uma romã por altura dos Reis, guardando-se obrigatóriamente a "coroa" (parte da casca) todo o ano. Era costume ter-se o máximo de cuidado ao comer para não deixar cair nenhum bago no chão, pois dava azar para o resto do ano. Estes fragmentos sobrepostos à contínua memória dos tempos continuam tenuamente a revelar-se tanto nos inumeros gestos quotidianos como nos momentos ritualisticos.

Pregar o silencio



como se fossemos pedras crepusculares
enrugavamos imóveis e eternos
sob a sabedoria do tacto lunar

Novas sonoridades



Aldeia da Torre.

segunda-feira, setembro 25, 2006

outra vez os caminhos




Aqui as palavras afundam-se
apenas as profundidades leves
vão passando passando

quarta-feira, setembro 20, 2006

crepusculo



a brisa ficou mais fria. as pedras acordaram e as quietas árvores começaram a murmurar velhos alfabetos. percorreu-te o hálito da cinza das recordações. eras um duende e tomavas banho naquele rio verde. sabias de todas as profundidades até mesmo as da carne. e quando regressavas a casa na hora do crepúsculo os teus olhos iluminavam-te. sabias que havia uma casa acesa.

Lumes




"falta ao nosso desejo musica sábia"
A. Rimbaud

segunda-feira, setembro 18, 2006

Taberna da Ti Maria



Alpedrinha, taberna da Ti Maria

Entrei na taberna e pedi à senhora se podia tirar uma fotografia, a resposta foi a seguinte: "Ande tire, tanta gente que vêm aqui a tirar!! Entretanto tres amigos que tinham entrado pela mesma razão - Isto é que é uma taberna antiga - exclamou um dos amigos. Concordei e começei a dispar fotografias ao mesmo tempo que admirava fascinado este fabuloso espaço. Depois de algumas palavras com estes amigos do Tortosendo e da oferta de duas "bebidas" (uma para mim outra para a estrelinha) a Ti Maria resumia em poucas palavras a sua vida atrás deste milenar balcão: "Já aqui estou há muitos". Ao mesmo tempo, olhava para os objectos carregados de memórias e revia toda a taberna lembrando-me daquele lugar mágico onde as sociabilidades de uma aldeia se definem ou se cozinham. Já agora, o que é feito das tabernas e dos taberneiros(as)??? porque deixam morrer estes espaços carregados de memórias?? é, de facto, uma pena, até porque nos outros paises estes espaços tradicionais são amplamente aproveitados para divulgação da cultura local. Será que em Portugal estes espaços ainda são vistos sob o velho estigma do "atrasado"? e daí se queira modernizar o pais uniformizando tudo??? há quem diga "higienizar" o pais...
Um abraço para os tres mosqueteiros do Tortosendo...

Taberna da Ti Maria


Alpedrinha, taberna da Ti Maria

domingo, setembro 17, 2006

Arquitectura tradicional: casas tradicionais de Alcafozes






A aldeia de Alcafozes fica situada a cerca de 13 Km de Idanha-a-Nova, encontra-se numa zona de xistos, embora devido à sua relativa proximidade com areas de granito, as casas da aldeia são, na sua maoiria, construidas com estes dois materiais que as areas envolventes oferecem. Em geral, o granito aparece nas guarnições das janelas e das portas, que tradicionalmente se caia de branco. Trata-se de uma aldeia onde a casa tradicional varia entre a dita casa do sul e a do norte. Pois podemos observar alguma variedade de casas baixas, sem janelas, com uma pequena porta com postigo e casas de andar sobrado com uma janela, algumas possuem uma pequena varanda de madeira. Aqui, como na grande maioria das tradicionais casas do sul, os animais são submetidos para fora da aldeia, para os denominados palheiros.

Arquitectura tradicional: casas tradicionais de Alcafozes





Palheiros para guardar as alfaias, os animais e a palha.

Arquitectura tradicional: casas tradicionais de Alcafozes



Arquitectura tradicional: casas tradicionais de Alcafozes


Portugal de perto


Proença-a-Velha

A tradicional carroça com rodados de ferro puxada pelo macho, ainda permanece, em muitas aldeias do concelho, como um meio transporte privilegiado para os que continuam a recusar todo e qualquer tipo de globalização. Ei-los compassados, trilhando o quotidiando da ciclica vida rural. Registemos tudo, absolutamente tudo destes resistentes...

quinta-feira, setembro 14, 2006

EU




toma.
leva-me para o cemitério das borboletas.
e deixa-me morrer de asas abertas.
porque já aprendi a ressuscitar com a frutada brisa da madrugada.

Planeta terra

quarta-feira, setembro 13, 2006

Viagens


"O que as viagens actualmente nos mostram em primeiro lugar são os nossos excrementos lançados à face da humanidade" Claude Levi-Strauss, Tristes Tropicos

Arquitectura tradicional: casas tradicionais da aldeia do Rosmaninhal



Casa baixa, com apenas a porta de entrada. Geralmente, este tipo de casa possui uma divisão que serve de cozinha e de sala e, normalmente, dois exiguos compartimentos que servem de quartos, onde apenas tem lugar a cama de bancos e a enxerga de palha de centeio por cima. A entrada destes quartos costuma estar tapada com cortinados coloridos. Para além da configuração do própria casa, note-se o aspecto sempre limpo e fresco que estas casas apresentam, estamos dentro do dominio da casa do Sul.

Tributo aos corvos




Edgar Allan Poe
passeia pela luz adormecida
Edgar Allan Poe
voltou e veste um fato de corvo preto
Edgar Allan Poe
roubou o outro mundo

Alfabetos solitarios


Praia das areias brancas/Santo André

quinta-feira, setembro 07, 2006

arquitectura tradicional: forno


Forno, Monsanto

Trata-se de uma interessante construção onde a estrutura do forno, elaborada de uma forma análoga às restantes construções circulares da zona, aparece anexa à casa de granito. Encontram-se alguns exemplares anexos a alguns arraiais, a abrir com a boca para o interior da cozinha.

Arquitectura tradicional: forno


Forno, Monsanto (outro ângulo)

666 o numero da besta



O espaço liminal abre-se. estende-se aos lugares roxos. onde os silêncios tudo convocam. olhar rugoso sobre a besta e os números. não falta muito para ser servida a escuridão. eis os convidados.

Lentos desfilares raianos

sábado, setembro 02, 2006

Malhoes



Malhões, Idanha-a-Nova

Em alguns casos estes amontoados de pedras, muitas vezes visiveis no centro das terras, eram o resultado de recolhas, no sentido de limpar as terras e consequentemente as lavrarem melhor. Noutros, elaboravam-se estes monticulos para servirem de marca divisória de propriedade. Alguns destes malhões serviam mesmo, em alguns casos, de abrigo contra os ventos frios que se fazem sentir no inverno.

arquitectura tradicional: abrigos pastoris


A Tenda, Idanha-a-Nova

Trata-se de um abrigo pastoril, de planta circular, em falsa cúpula, construido com base na rocha natural desta região, ou seja, o granito. Comporta um pequeno anexo frontal, talvez tenha servido de pocilga. Os populares chamam-lhe "Tenda".

outra vez os caminhos: algumas reflexoes em torno do acto de caminhar



Caminhar, peregrinar...

Na mítica Idade Média, repleta de ambientes fervorosamente religiosos, viajava-se em função das motivações religiosas. Pois muitas das peregrinações efectuadas, eram pura e simplesmente penitências aplicadas a pecadores, que iriam pagar os seus erros em longas e árduas peregrinações, só regressando dessa extenuante viagem após concluida a peregrinação. Viajar traduzia assim um rito de penitência, longo e severo. Deste periodo até meados do século XIV, as peregrinações intensificam-se, principalmente ao nivel do sentido. Pois passaram a estar ligadas à procura da cura espiritual ou fisica, por outro lado, começaram a surgir individuos milagreiros.
Inerente a este processo, começaram a surgir inumeros viajantes, comerciantes e aventureiros, interligados por uma mescla de devoção, cultura e prazer. Já no século XV, organizavam-se excursões que partiam de Veneza para a Terra Santa e a partir do século XVII o "Grand Tour" estabeleceu-se para os filhos da aristocracia. Com o Renascimento (revalorização do humanismo) e com as diversas colonizações, a viajem tornou-se numa busca do conhecimento, com o olhar, "as eyewitness observation" (Urry, 1990). No século XVIII, destacaram-se os numerosos balneários com finalidade medicinal, assim como, o turismo para as zonas litorais, sob a justificação de que os banhos no mar possuiam igualmente efeitos curativos.
Contudo, paralelamente a todo este desenvolvimento, assistiu-se a um conjunto de mudanças cruciais, principalmente nas relações do trabalho. Na Europa, durante os séculos XVIII e XIX, o trabalho passou a ser uma actividade mais organizada politica e socialmente, permitindo racionalizar os espaços e momentos de lazer. Assim, com a melhoria dos padrões de vida dos paises industrializados, com a melhoria dos transportes e a diminuição do tempo de trabalho, as viagens de lazer aumentaram vertiginosamente, dando inicio à era do turismo massificado.
No século XX, após o advento da 2ª Guerra Mundial, quando o capitalismo se revigorou e atingiu nos paises europeus altos niveis de vida, o periodo de férias e do trabalho tornou-se numa conquista de cidadania. Porém, passou também a ser reconhecido por todos, que viajar ou gozar férias revigorava, trazia novas forças, daí que, de uma forma secularizada, o turismo continue a manter um principio original: a busca, a renovação, o refazer de uma ordem prejudicada pelo stress da rotina; conotando-se como uma especie simbólica de cura, tal como as peregrinações. Assim sendo, o turismo tem componentes da peregrinação e vice-versa.

Continua..."se o pregrino é meio turista, então o turista é meio peregrino" (Turner, 1974).