quinta-feira, setembro 17, 2009

MEMÓRIAS: DA LÃ AOS COBERTORES

(Proença-a-Velha, 2007. Ti Ifisénia, reformada)



nesta imagem a Ti Ifisénia mostra um dos três cobertores que mandou fazer em Castelo Novo com as sobras das lãs que ia juntando durante as campanhas das tosquias.

registo:


" O meu homem era pastor e nas alturas das ordenhas rabejavam as ovelhas nos apriscos, para o leite não ir sujo para os potes. Eu depois apanhava aqueles bocados da lã sujos, lava-os bem lavadinhos na rebera, levava-os para a choça e punha-os a enxugar. Depois quando estivessem enxutas, deslanava tudo com os dedos e punha tudo como era algodão-em-rama. Também costumava aproveitar os bocados que ficavam depois da tosquia. Ia ajuntando tudo até fazer 2,5 Kg, era o peso que era preciso para mandar fazer um cobertor. Depois vinha cá um homem ali de Castelo Novo que levava a lã para a fábrica, nós só lhe pagávamos a tinta e o trabalho. Ele depois trazi-nos os cobertores já fêtos. Com a lã que ajuntei fiz três cobertores, um para cada filha, tenho ainda aqui dois aqui em casa, estão por acabar. Olhe, a gente também costumava encher as almofadas com as rabejas, a gente chamava-lhes as badalhocas" (Ifisénia Maria, 85 anos, reformada, Proença-a-Velha).

in Eddy Chambino, Pastores, guardiães de uma paisagem, p. 70.

7 comentários:

  1. Anónimo7:50 p.m.

    Saberes , tudo se aproveitava e era útil ...
    Espero que as suas vagabundagens tenham sido òptimas ...
    abraço
    _______ JRMARTO

    ResponderEliminar
  2. Anónimo8:46 p.m.

    Extraordinário registo companheiro. A 'fábrica' era em Castelo Novo?
    Abraço até aos chocallhos
    pedro salvado

    ResponderEliminar
  3. Amigo jose, este mundo é um palco extraordinário de grandes vagabundagens...


    um grande abraço

    ResponderEliminar
  4. Amigo Pedro "le sauvage", estamos na mesma senda dionísiaca...



    um grande abraço

    ResponderEliminar
  5. Anónimo1:43 p.m.

    ...se estamos camarada, se estamos...
    P.S. (s.s.)

    ResponderEliminar
  6. Belo registo das memórias do nosso povo.
    Já agora, e se me permite, o nome correcto da senhora é IFIGÉNIA, embora aqui seja apenas conhecida como "Ti Fegena". E continua rija e a tratar da sua horta, apesar dos seus 89 anos de idade.

    ResponderEliminar
  7. Obrigado amigo J. Adolfo pela "dica".
    Bem hajas também pela visita.

    um "saludo"

    ResponderEliminar