sexta-feira, outubro 31, 2008

UM DIREITO ANCESTRAL..

(foto El Pais)

milhares de ovelhas e seus respectivos pastores atravessaram uma das avenidas principais do centro de madrid neste último fim de semana, trata-se de uma das ancestrais passagens (cañadas) de gados transumantes instituidas pela histórica sociedade medieval, La Real Mesta. nos dias de hoje, conota-se como uma reivindicação, um direito de passagem, conservação e salvaguarda destes históricos caminhos, um alerta para as questões que dizem respeito a este património histórico e cultural, assim como uma forma de "beliscar" incentivos, visibilidades, etc. sob o ponto de vista das questões ligadas à encenação do animal nestes contextos festivos e performativos, seria crucial uma etnografia "transumante" através destas avenidas.

quinta-feira, outubro 30, 2008

escritos...

Naquele limiar entre o que resta do dia, a luz parda que vinca os finos ramos das árvores, metamorfoseando-os em infinitas linhas que imitam a vida da respiração, acende-se. Neste espaço de intensidades misturam-se os zumbidos dos insectos da noite com os últimos chilreares dos pássaros que procuram dormida e alguma companhia para a terrível e doce noite. De repente uma gargalhada de um melro rasga este interlúdio, é o sinal do seu regresso ao coração acalentado de uma silveira.

(décimo dia-eddy nelson)

sábado, outubro 25, 2008



impressiona, em pleno século XXI, ouvir chefes de Estado proferir discursos onde a diferença entre um "Nós" (inteligentes, ricos, prosperos, puros, poderosos, mestres, etc, etc...) e um "Outro" (idiota, diabólico, terrorista, atrasado, errático, etc, etc) é ainda uma realidade bem vincada. dá vontade de perguntar: poderosos em quê? superiores em quê? ricos em quê? prosperos em quê?...só falta agora dizerem que a crise que está a mergulhar o mundo num tremendoo abismo também é culpa dos "outros"!?!?! 
com um mundo globalizado, interconectado através das inúmeras redes mundiais (internet, satelite, etc.,) transformam-se de igual modo as diferenças e as desigualdades. urge pensar a diferença dentro deste contexto?

domingo, outubro 19, 2008

TERRAS DE PÃO, PÃO DAS TERRAS




(eiras, locais onde se debulham os cereais (trigo, centeio), Rosmaninhal, 2008)


é dificil falar das paisagens raianas e das suas gentes sem mencionar os cereais. tudo se estruturou em seu redor, inclusivé a própria configuração das aldeias. aliás, toda a história da humanidade se configurou em torno da domésticação dos cereais. da sua transformação resultou o pão, esse alimento capital para a grande maioria das sociedades humanas. no concelho de idanha-a-nova cultivou-se na maioria das terras trigo e centeio, deste periodo agrário resultaram as configurações das vastas paisagens pontuadas aqui e ali com casarios designados de arraiais, alguns confudem-se mesmo com as próprias aldeias, tal era o povoamento e a dimensão estrutural da vida nos campos em torno dos cereais e dos gados. basta simplesmente olhar para a paisagem para vislumbrar os resultados desta mágica complementaridade entre as culturas cerealíferas e a criação de gados. a paisagem revela-se assim como um precioso livro aberto, nela se inscrevem uma infinidade de marcas desta fantástica e árdua História. a confirmá-lo estão por exemplo estes remotos recintos circulares, lageados ou simplesmente em terra batida, designados de eiras, onde se debulhavam o trigo e o centeio. depois de secas as espigas, a debulha do trigo efectuava-se com um trilho, puxado por um animal ou uma parelha, também era usual a debulha a pé de gado (alentejo e ribatejo). por outro lado, as malhas do centeio eram efectuadas a braçal, para preservar o colmo. os malhadores utilizavam o magual.
antes do aparecimento dos tractores, ainda foi uso generalizado as debulhas mecânicas do trigo, das quais ainda tenho uma leve recordação na aldeia do rosmaninhal. muito haveria por dizer destas inovações e da memória das suas práticas, assim como dos moinhos e das inúmeras fábricas de moagem, ou do saber-fazer das mulheres que amassavam, coziam e colocavam o pão na mesa das numerosas familias, mesmo em tempos de falta, havia sempre um cantinho de seara (pão). a recolha destas memórias tornam-se assim estruturais para percebermos melhor a história economica e social das paisagens da raia, sem elas tudo fica incompleto, insonso, quase vazio...

sexta-feira, outubro 17, 2008

...escritos...


(Arabesques : heurtoirs et tirants de portes de diverses époques (1877))


As folhas amareladas poisadas ao acaso do destino naquele espaço já anunciam o Outono. A tarde chega ao fim com pautados chilreares. Aqui e ali ouvem-se os rasgantes ruídos dos motores dos carros. Algumas nuvens ocupam a faixa norte do cabeço. Esta quietude é apenas aparente e resulta de uma combinação cósmica, difícil de decifrar, onde todos os organismos vivos e, porque não os mortos, percepcionam sensorialmente os diversos ciclos diários. E desta mágica decifração, vão também eles adaptando-se à mudança de todas as coisas perecíveis e não perecíveis. A lua dá uma volta ao céu em 27, 32 dias e o sol num ano. Tudo se revela como consequência de tudo.

eddy chambino, décimo dia.

quinta-feira, outubro 16, 2008



john lennon - mother

domingo, outubro 12, 2008

(gilbert garcin-face au vide:le fantaisiste)


a opção certa...a fantasia!

sexta-feira, outubro 10, 2008

(gilbert garcin)


"the consequences"

um artista plástco extraordinário

quarta-feira, outubro 08, 2008



neste jazigo insondável e triste
onde o destino me degredou já
e onde não entra um raio de alegria
a sós com a noite, companhia má

Baudelaire

terça-feira, outubro 07, 2008


(fotos eddy, 2008)

mais lugares da morte...

segunda-feira, outubro 06, 2008




(Fotos Eddy, 2007)


...e o luto nas suas multiplas formas de o manifestar...esse processo que todos os elementos de uma familia, de um grupo, de uma casa sofrem, essa transformação, esse tempo de poluição, de interdição de qualquer manifestação de alegria, essa mudança de estado, enfim...o luto esse velho poluidor da vida...

domingo, outubro 05, 2008

pensar a morte...

(foto eddy.2008)

quais os sentidos para os rituais associados à morte? ...um deles é pensar os mortos como um grupo, uma comunidade...que continua a "viver/participar" no limbo momentâneo deste mundo...





sábado, outubro 04, 2008

sebastião salgado...um dos meus fotografos preferidos...


...mundo animal...



domingo, setembro 28, 2008

um conto...(RELEMBRADO)






Joaquim, o Grande




A luz parda de um dia qualquer de Outubro encobria o velho palheiro de granito num imenso oceano de monotonia. Lá dentro, dormia Joaquim, O Grande, conjuntamente com o colossal vazio de nenhuns pertences. Deste vazio, apenas se destacava a sua motorizada. Uma Saches Fuego gasta, cansada de tantas quedas e acrobacias. Porém, mantinha-se exemplar em tudo o que qualquer outra motorizada podia fazer de melhor. O Joaquim costumava dizer do alto dos seus 2 metros e 8 centímetros que esta tinha a particularidade de conhecer demasiado bem o seu dono, assim como as estradas e caminhos de pó por onde circulava. Sim, o Joaquim media 2 metros e 8 centímetros. Tinha uns braços finos e compridos, desajeitados e umas mãos que mais faziam lembrar duas enormes raízes desconexas e desarticuladas do corpo que as sustia. As suas pernas faziam lembrar as de uma cegonha. E desde o alto, oscilava um pequeno crânio desproporcional a todo este monumento, que era o seu desconexo corpo. Quando conduzia a sua motorizada, os joelhos atrapalhavam e roçavam no volante, que ele teimava em inclinar para trás. Era um autêntico alienígena que no imenso ruído se fazia transportar a toda a velocidade pelas estradas da Vila. Apenas pelo sôfrego ruído da motorizada cansada e gasta a subir as íngremes rampas da encosta da Vila, toda a gente já sabia que era o Joaquim, O Grande, na sua motorizada Saches Fuego bege-gasto. Depois, entrava na taberna e pedia uma mini sagres e dobrava aquele colossal tronco sob o balcão e ali ficava até já mal articular as palavras devido à dose excessiva de minis que tinha bebido. Abandonava a taberna imitando um velho tronco de uma árvore contorcida e arrancava na sua motorizada com a ajuda das compridas pernas, arrastando-as como duas muletas. E assim evitava alguma queda mais que prevista. Para além deste percurso quotidiano, o Joaquim era um homem triste e sozinho. Não tinha família e vivia num palheiro emprestado pela caridade de um dos seus cúmplices de bebedeiras. Sempre que ultrapassava a volumetria de uma simples bebedeira, silvava alfabetos estranhos e chorava até cair inanimado. O mundo não tinha lugar para aquele colossal corpo caído desarticulado na calçada húmida. Eram necessários pelo menos cinco homens para o levantar e o sentar decentemente num dos bancos corridos de madeira da taberna. Passados estes árduos trabalhos, já sentado, adormecia como uma criança abandonada. Todos na taberna ficavam ali a admirar o monstro que dormia como uma criança triste.
Nunca ninguém lhe ouviu uma única palavra de lamento, mesmo quando lhe aconteciam as maiores desgraças, ou seja, quedas da motorizada, falta de dinheiro, falta de roupa, etc. Respondia sempre ao mundo com um desmesurado sorriso proporcional ao seu corpo. Numa manhã de Junho aquele colossal corpo sucumbia dentro daquela triste casa, no meio de um velho colchão coberto com uma manta gasta. Morte natural escreveu o médico. Minutos antes de fechar os olhos para todo o sempre teve um daqueles fatídicos pressentimentos e decidiu de vez disparar… uma velha máquina fotográfica que lhe tinha dado há muitos anos um velho amigo emigrante. Mais tarde, quando o Lúcio decidiu recolher todos os destroços do que restava desta gigante vida, encontrou a velha máquina pousada num pequeno apoio ao lado da sua cama. À saída da loja de fotografia, à medida que caminhava ia folheando cada uma daquelas enigmáticas imagens. Destas, apenas guardou uma que lhe pareceu visualizar, embora de uma forma desfocada, o rosto sorridente do Joaquim. O resto deitou fora. Foi com este enigmático sorriso que o Joaquim se tinha despedido da vida e que agora, por iniciativa de todos os seus companheiros da taberna, pairava em cima da sua solitária sepultura, encaixilhado numa pequena moldura. Na taberna dizia-se que até na morte o Joaquim tinha sido Grande, pois não havia sorriso no cemitério como o do Joaquim, O Grande. 




quinta-feira, setembro 25, 2008

DIÁRIOS ALZHEIMER

(um dos muitos exercicios que efectuei com a minha mãe)


"...não me peçam para eu fazer as coisas, eu não sou capaz!!!"

domingo, setembro 21, 2008

21 SETEMBRO - DIA DO DOENTE DE ALZHEIMER


a minha mãe faleceu há cerca de um mês com esta terrivel doença, tinha apenas 63 anos, para que muitos possam ter o apoio que eu e a minha irmã não tivemos, façam-se sócios desta preciosa causa, associem-se aos doentes e familiares de alzheimer, pois...a união faz a força. para que hajam mais ajudas estatais, para que se constituam grupos de apoio psicologico aos familiares mais directos destes doentes, principalmente aqueles que vivem longe dos grandes centros urbanos, para que se instaurem instituições de acolhimento especializadas nestas doenças nas capitais de distrito e porque não nas aldeias, onde a calma e serenidade imperam etc..etc..etc... a todos os que já sofreram uma perda destas...animo...uma oração...


sábado, setembro 20, 2008

TRIBUTE TO R. WRIGHT




(Pink Floyd - us and them)


...mais uma perda para este mundo terreno...R. Wright, fundador dos miticos Pink Floyd, partiu deste mundo aos 65 anos...

O INTERIOR DE UMA CASA DE CAMPO

rosmaninhal, 2007.



o registo sempre atento destas arquitecturas vernáculas...uma casa de campo abandonada, com todos os sinais das inúmeras vivências que por ali passaram. admirável este barro que cobre os interiores, uma protecção ecologica ancestral. procurar este saber-fazer já é uma tarefa quase inglória..