Rosmaninhal, interior de uma casa tradicional, móvel (banca), barril e talhas de barro onde se colocava a água para beber.
Tanto poderíamos dizer sobre estes tradicionais recipientes, cheios de água fresca, que povoavam as casas das aldeias. O lugar onde ficava situada a "talha da água" não variava muito, escolhia-se um lugar fesco, funcional, perto da porta de entrada da casa. O móvel onde esta encaixava também variava, nas casas mais antigas ainda se podem observar os antigos poiais de xisto onde se colocava a talha. A tapar a boca da talha estava um pequeno prato de barro, ao que se denomina de barranhão, sobre este repousava um copo igualmente de barro. A tapar o copo, colocava-se um pano de linho bordado que embelezava e o protegia dos inumeros insectos. Para além das talhas, havia outro universo de recipientes de barro que preenchiam outras funções, tais como: as bilhas, os potes, os barris, etc. Um dos factores que contribuiu para a inoperância desta prática, foi a canalização das casas. De repente ou paulatinamente, conforme os casos, todas as casas foram incorporando outros consumos (electricidade, botija de gaz e água canalizada). Isto fez com que se alterassem os interiores das casas, para integrar novos objectos que, por sua vez, foram destituindo outros. As sociabilidades também se modificaram, os quotidianos configuraram-se mediante estes novos consumos. O repetitivo trajecto de ida à fonte deixa-se de se fazer e a fonte vai ficando cada vez mais esquecida, assim como as sociabilidades que lhes estavam associadas. Veja-se a quantidade de topónimos ligados às fontes e à água, as tradicionais canções sobre as idas à fonte, os namoros que a pretexto da ida fonte se desenharam. Deste modo, a talha e a ida à fonte se conjugam, se imaginam e, sobretudo, se complementam. Haveria, contudo, ainda muito para dizer, desde as formas de beber água, de dar água a um desconhecido, a um familiar, de lavar o copo antes de o mergulhar dentro da talha, como se mergulha, etc. Também a lavagem das talhas à porta de casa, com palha, era uma prática que por si, gerava todo um discurso sobre este milenar saber-fazer. Em jeito de conclusão, veja-se como um objecto ou um conjunto de objectos, inoperantes dentro de uma casa nos pode ser útil para entender a própria casa e perceber as sociabilidades geradas no seu interior.
3 comentários:
Este blogue é um verdadeiro tratado iconográfico de etnografia, que visito com agrado. Aqui, na “talha da água”, fotografia e texto são duma evidência cristalina como a água da montanha. Uma das minhas felizes recordações de infância e adolescência, reside na memória que tenho das visitas constantes à casa da minha avó materna, onde a água que ela tinha numa talha, tapada, e da qual bebia por um púcaro me sabia tão bem, gosto que ainda guardo na memória. Bem-haja.
Caro Eddy
Essas talhas, (ou asados como se chamam em Toulões) depois de areadas e colocadas sobre um poial de pedra (baturel como se diz aqui), guardavam a água sempre fresca mesmo nos dias mais quentes.
Como bem refére, a ida à fonte para encher o asado tornava-se quase um ritual. A rapaziada sentava-se à beira do caminho para ver passar as raparigas, transportando-o à cabeça, apoiado numa rodilha, num verdadeiro exercício de equilibrio.
Um abraço
tambem as fontes são um tema bastante interessante para registar,e sõ inumeras as existentes no nosso conselho...é de valor os temas que tens vindo aui a expor.
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