sexta-feira, fevereiro 29, 2008

LAVRAR A TERRA...

Ti Joaquim, Rosmaninhal, 2007.


Esta é uma imagem singular nos dias de hoje, pois com o processo de mecanização dos campos os tractores foram remetendo estes animais, estas ancestrais alfaias agricolas e suas funcionalidades para o esquecimento. Para além da importância do registo destas práticas que já se encontram mais próximas de se tornarem meras reminiscências, sublinho, exalto, aclamo, elogio principalmente a experiência sensorial que uma lavra elaborada a sangue emana, desde o fresco e estranho aroma da terra a ser dilacerada, às diversas sonoridades que acompanham e comportam este acto de lavrar a terra com um animal e com uma alfaia tradicional. Algo de muito para além das meras e infrutíferas explicações eruditas se apreende numa experiência vivida desta natureza.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

UM EXCELENTE PONTO DE PARTIDA...



"O que importa saber não é se o património produz e/ou expressa identidade, mas antes saber se produz e/ou expressa identificação, ou seja, até que ponto motiva um determinado conjunto de pessoas a se identificarem com uma determinada "ficção identitária" e até que ponto essa ficção é percepcionada enquanto real."

(Elsa Peralta e Marta Anico, Patrimónios e identidades, p. 3)

DAS MÃOS...



Maria Nabais, Penha Garcia, 2008.

Durante as minhas constantes conversas informais com as gentes das aldeias sempre registei e continuo a registar o universo do corpo enquanto simbolo de multiplas linguagens. Dos infinitos registos destaco aqui o meu fascinio pelas mãos das gentes que trabalharam árduamente nos campos. Mãos que aprenderam a utilizar diversas ferramentas, gestos e performances de trabalho e que devido à perserverância ficaram por isso perpetuados sob a forma de cicratizes, deformações e calos que hoje nos podem contar multiplas histórias.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

UMA ENTREVISTA AO GRANDE MESTRE BENJAMIM PEREIRA...



Conheci o grande mestre da etnologia portuguesa na Idanha, mais propriamente no Centro Cultural Raiano. Depois de ter lido até à exaustão os seus distintos trabalhos, eis que numa manhã de Maio tive a oportunidade de conversar acerca de muitas e infidáveis matérias e experiências. Nesta entrevista, Benjamim Pereira fala-nos sobre a importância da DANÇA em contextos rurais.
Desde aqui, deixo-lhe um abraço amigo.

sábado, fevereiro 23, 2008

ACERCA DAS BESTAS...





(Fonte: SICD)


Em primeiro lugar quero destacar este tempo remoto onde a arte das gravuras - que tanto admiro - ocupavam admirávelmente o lugar da fotografia. Em segundo lugar referir que tinha ou sentia a necessidade remota de escrever, ilustrar, apresentar, imaginar, arquitectar, fantasiar neste espaço virtual algumas linhas inteiramente dedicadas às denominadas BESTAS, pois uma das primordiais ideias implicitas na construção deste blogue foi precisamente perscutar os espaços a eles confinados dentro das ditas casas rurais. Deste modo, estes interessantes animais que outrora preenchiam um espaço de capital importância na vida das populações deste país ( embora em alguns casos, já muito pontualmente, ainda continuem a preencher em pleno as funções ancestrais ), encontram-se em vias de desaparecer para todo o sempre e com eles todas as suas práticas e funcionalidades. Deste célebre conjunto, cavalo,macho, mula e burro, este último talvez seja o que mais se têm destacado, pois beneficiou - e muito bem - de um conjunto de medidas no sentido de o proteger da sua total extinção do território nacional. Em alguns casos inserindo-se com relativa facilidade nos mesmos parâmetros de salvaguarda dos campos tão vastos dos patrimónios e com base em semelhantes activações começou mesmo a preencher novas funcionalidades ligadas a fins lúdicos, turisticos e terapeuticos. Aparecendo deste modo reinventado em inúmeras feiras encenadas, percursos de outrora, festas e tradicionais desfiles. Assim sendo temos o fim das funcionalidades ancestrais ligadas ao burro (trabalho, carga, ritualidades) e o (re)surgimento deste enquanto activação patrimonial, ou seja, enquanto memória colectiva e identidade ligada aos campos. Vale a pena questionar estas novas configurações patrimoniais...

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

THE DARK SIDE OF THE MOON...






Ontem, tive a oportunidade de me deslocar para um ponto alto afastado de qualquer luz artificial (a chamada poluição luminosa) para vislumbrar um dos fenomenos astrofisicos que mais me fascina, os eclipses lunares e solares. O eclipse lunar de ontem foi total. Também contei com a sorte de entre alguma nebulosidade o céu ter ficado deslumbrantemente límpido. Valeu a pena o tempo, a madrugada, a força mágica do universo. Quanto ao próximo, só em 2010.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

MUSICA TRADICIONAL ITALIANA






Com esta encantadora performance intitulada de "Tarantella calabrese" fundo neste espaço um lugar para a dimensão das imagens em movimento.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

PATRIMONIOMANIA



Porque a qualidade maior do património rural está em: ser um espaço multidimensional apto a produzir e dar a ver a diversidade.

domingo, fevereiro 17, 2008

AS MATÉRIAS DA TERRA


Fabrica de cortiça, Ermidas do Sado, 2008.

O vislumbre do abandono de uma das matérias-primas mais característica e mais influente nas economias locais desta vasta região alentejana, ou seja, a cortiça. Aos mestres cortiçeiros, aos velhos complexos industriais que ficaram, à caracteristica paisagem de sobreiros e suas subculturas, aos circuitos, fluxos, migrações que muitas destas gentes efectuaram por todo o país...somo e registo no meu pequeno caderno de capa preta.

sábado, fevereiro 16, 2008

DAS GEOMETRIAS...



É esta a luz que nos enfeitiça...arquitecturas delicadamente lívidas com azuis de mar fortes.

"À DESCOBERTA DE SINES"





Como a luz desta encantadora cidade me fascina? Mesmo depois de deslumbradas e infinitas visitas, mesmo depois de cansar sem cansar o mais encantador dos deslumbramentos, ela, a cidade, continua noiva desse tempo perdido. Hoje, passeio devagar, calcorreo as suas ruas escancaradas para o mar, aproveito para descansar nas suas dobras, tal como os passáros extasiados nos altivos e incendiados beirais. Fico quieto, como um velho decifrador das matemáticas das sombras e dos gestos, observo a lassidão a trespassar este dia, o mar e os inúmeros barcos dos pescadores em laudanizantes esperas. Desloco-me e transcrevo-me para um velho caderno encardido.

terça-feira, fevereiro 05, 2008

RAIA PROFUNDA


Rio Erges, Rosmaninhal, 2008.

Viagem ao coração das agrestes paisagens raianas.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

O ENTRUDO




Celebramos os três dias gordos da festa do entrudo (introitus, entrada) que funda as suas raizes no mais profundo dos tempos. Trata-se como inúmeros autores assinalam de uma representação da morte de tudo o que existe e um renascimento colectivo. É o tempo da transgressão, da sátira onde tudo ou quase tudo é permitido.

A CASA DOS LABORES DAS MÃOS




Oficina de artes tradicionais, Idanha-a-Nova, 2008.

Como ainda tinha visitado esta casa recentemente inaugurada pela CMI, aproveitei e fui perscutar este antigo espaço tornado agora novo onde os labores das mãos são exaltados. Trata-se de um espaço extraordináriamente bem recuperado, onde se preservou a antiga estrutura conjuntamente com os seus materiais. Relativamente à sua importância social neste mundo infernalmente programado e dominado pelas maquinas, é de aplaudir de pé quando se inaugura um espaço dedicado aos ancestrais labores das mãos. Pois com ele revitalizam-se saberes, memórias, utensílios, performances e diálogos esquecidos. Veja-se a titulo de exemplo o adufe, com os seus multiplos discursos sobre a sua construção e autênticidade, os seus materiais originais, a sua linguagem na ritualidade de um povo, a sua ligação a uma paisagem pastoril, as suas multiplas formas de o tocar, o seu lugar e sua importância no espaço doméstico, a sua importância enquanto simbólo identitário de uma região, etc, etc.

domingo, fevereiro 03, 2008

ARQUITECTURAS TRADICIONAIS




Ponte tradicional em xisto, Rosmaninhal, 2008.

Com o progressivo abandono dos campos, estas arcaicas passagens foram caindo no mais fragmentado dos abandonos. Sendo estas em si mesmas testemunho vivo de importantíssimos fluxos viários ligados ao usufruto destas paisagens ditas agro-pastoris, assim como de um conjunto de saber-fazer técnicos e de uma memória ligada a ancestrais mobilidades onde a tracção animal imperava, é urgente a sua requalificação, estudo e inventariação.

sábado, fevereiro 02, 2008

LUZ SEPULCRAL




Cozinho em fogo lento um trabalho sobre esta luz espectral...

DE VOLTA...POR ALGUNS MOMENTOS..



decidi caminhar durante alguns dias e algumas noites por caminhos de pó deste tão vasto mundo. cansar o corpo, fatigá-lo com o suor do fascínio. deixar desfilar o olhar cansado pelo acaso do sonho. acordar com a nudez branca de uma luz matinal. e as noites, as noites, é absolutamente necessário entregar o espirito ao mágico odor da noite...

um pensamento:

"Talvez não devêssemos nunca procurar um traje novo, por mais esfarrapado e sujo que estivesse o velho, a não ser quando, tendo gerido, batalhado ou viajado de algum modo, nos sentíssemos como homens novos dentro de roupas velhas, a tal ponto que mantê-las seria como guardar vinho novo em odres velhos".

in Henry David Thoreau, Walden ou a vida nos bosques, p. 39.