quinta-feira, março 31, 2011

IDANHA-A-VELHA: SERRAÇÃO DA VELHA


por todo o concelho apenas em idanha-a-velha têm lugar esta singular manifestação pertencente a essa categoria de "testamentos" jocosos publicos. existem referências que consideram a "velha" a personificação do inverno (leite vasconcelos; teófilo braga) que seria exorcizado nesta altura do ano (inicio da primavera). outros, em alusão ao imaginário medieval cristão, vêem nesta "velha" a própria representação da "quaresma" e como acontece exactamente no meio deste mesmo periodo de jejuns e recolhimento, seria talvez uma forma para amenizar este austero periodo, daí, serra-se a velha ao meio. em idanha-a-velha, na quarta-feira que medeia o periodo da quaresma, um pequeno grupo misto, teima em fazer-se ouvir, à meia-noite, junto à porta das "velhas" e dos "velhos" (avós e avôs). referem que noutros tempos era feito pela rapaziada solteira, hoje, face às mudanças estruturais fruto dos tempos, restam muito poucos jovens na aldeia e a solução é recorrer aos que nela residem e que estão dispostos a partcipar (homens e mulheres casados).
***
quarta-feira (30 março), é meia-noite, o grupo misto reuniu-se no café, munido de chocalhos, uma vuvuzela e inicia o percurso dando a volta pela porta norte da aldeia. junto às primeiras casas que se encontram nesta direcção, param e o Sr. Carlos (lider do grupo) recorre à sua imaginação para entoar a primeira quadra da noite. finalizada, o grupo responde com o barulho infernal das chocalhadas e risos, daqui seguem para a casa seguinte. em algumas casas recebem dos moradores dádivas (chouriço, dinheiro, bebidas), a prática termina no mesmo ponto onde o grupo se reuniu para aqui comerem estas mesmas oferendas. registamos este importante repertório rico em criatividade espontanea, produto da criação pessoal onde a voz do povo se revela com o seu humor e a sua critica satirizada.

quarta-feira, março 30, 2011

ARQUITECTURAS TRADICIONAIS: ABRIGOS PASTORIS


monfortinho, 2011.

ruinas de um abrigo pastoril. a reconstrução, para além da valorização, inventário e salvaguarda, traria também esse "saber-fazer" inoperante e essas sempre complexas discussões sobre a reconversão destas arquitecturas inoperantes.


(lifemusic.creativity)


(...) depois, um baile de noites e de mares já sabidos, uma quimia sem valor e impraticáveis melodias

a. rimbaud, iluminações, p. 97

segunda-feira, março 28, 2011

domingo, março 27, 2011

AUDÁCIA OU FALTA DELA...


como me assustam esses copiosos habitantes das teias de aranha inertes que tudo retêem e nada inovam. imóveis e solenes do seu poder cosmético de tremuras. adoptam a repetição do casúlo em vez da audácia, da ambição de sonhar. tudo fazem para que o cosmos seja apenas o que as suas mãos alcançam ou conseguem alcançar e deveras *"tudo" conseguem alcançar. mas daí, nada se espera a não ser bolor. pois o acto de criar e de inovar está nos audázes e nos sonhadores, naqueles que conseguem chorar de alegria mesmo quando falham. é urgente ultrapassar a monotonia insalubre, ter a humildade de perceber e dar a perceber que os outros também nos podem ensinar com os seus mundos particulares e gerais, dar lugar, evidenciá-los, estar com eles, sorrir com eles, sonhar com eles. porém, pelo contrário, eles teimam em odiar e fazer odiar, olhar apenas para dentro dos seus feudos, desconhecendo e fazendo tudo para desconhecer que o sonhador já voa há muito a plena liberdade...

OLHAR ILIMITADO

na igreja matriz de penha garcia à meia-noite.

sábado, março 26, 2011

FILMAGENS: PROJECTO " TRADIÇÕES PASCAIS DO CONCELHO DE IDANHA-A-NOVA"

grupo das "encomendações das almas" de penha garcia.

grupo das "encomendações das almas e martírios" de monfortinho.


regressamos ao terreno das filmagens das "encomendações das almas". nesta sexta-feira estivemos em monfortinho e em penha garcia. presenciamos momentos verdadeiramente "mágicos" junto destes dois grupos notáveis. desta vez, mesmo com a chuva a dar corpo e a pautar as melodias funebres e tristes, cumpriu-se com toda a solenidade o respectivo ritual.

quinta-feira, março 24, 2011

ENCOMENDAÇÃO DAS ALMAS, MEDELIM


grupo das "Encomendações das Almas", Medelim, 2011.



quarta-feira, março 23, 2011

ON THE ROAD

sofia, bulgaria. 2010.

terça-feira, março 22, 2011

INSUBORDINADAMENTE A OLHAR

com o olhar nas cores surgem-me nas veias perfumes de recordações. a minha avô nas suas tarefas quotidianas solenemente despenteada de faca e sorriso épico à espera do sangue rosado de uma qualquer galinha que era preciso matar. depois do sangue rosado preencher o verde do alguidar de plástico observava deslumbrado como as suas mãos tudo sabiam.

AGENDA DOS RITUAIS QUARESMAIS E PASCAIS

(org. do trabalho, Dr. António Catana. Ed. CMI)

domingo, março 20, 2011

FILMAGENS: PROJECTO " TRADIÇÕES PASCAIS DO CONCELHO DE IDANHA-A-NOVA"

encomendação das almas, termas de monfortinho, 2011.

iniciamos, conjuntamente com uma equipa de especialistas da imagem/som/realização, um ambicioso projecto filmico em torno das "Tradições Pascais do concelho de Idanha-a-Nova". trata-se de um projecto de recolhas com a duração de cerca de três anos. esboça-se aqui todo um árduo e fascinante campo de trabalho interdisciplinar. o projecto iniciou-se nas Termas de Monfortinho e em Medelim com as "encomendações das almas" que se realizam pela maioria das freguesias do concelho.

quarta-feira, março 16, 2011

OLHARES

centro cultural raiano, idanha-a-nova, 2011.

terça-feira, março 15, 2011

RETRATOS



não sei. tenho as mãos nos bolsos vazios e caminho. não sei. escrevo num papel rascunhos insignificantes que ofereço a esta chuva de março. não sei. decifro o luminoso. não sei. prefiro o caminho de pó rude às multidões televisionadas e teleguidas. não sei. existe tanto para deslumbrar. não sei.

domingo, março 13, 2011

o universo nem sequer se dará conta de que nós existimos.
nem saberá que o Homero escreveu a Ilíada.

*J. Saramago

sábado, março 12, 2011

ROSMANINHAL, ENTERRO DA SARDINHA


um fragmento filmico do "enterro da sardinha" no rosmaninhal.

sexta-feira, março 11, 2011

ROSMANINHAL, ENTERRO DA SARDINHA



enterro da sardinha, rosmaninhal, 2011.



aconteceu na presente quarta-feira de cinzas (9 de março de 2011) no Rosmaninhal, esta extraordinária prática que finda as manifestações de carnaval e que pautam o calendário cerimonial anual desta mesma região. insere-se nessa ampla categoria de enterros e julgamentos/testamentos jocosos que assinalam (ou assinalavam) este mesmo periodo pela extensa maioria das populações do interior do país. no fundo, qualifica-se como uma paródia/performance do ritual religioso dos enterros. as suas personagens principais são: o padre, o sacristão e restantes acompanhantes enlutados. consiste em percorrer, em plena gritaria, ao som de chocalhos/campainhas, as casas da aldeia, acompanhados de uma urna ficticia com um suposto "morto" (boneco de trapos) no interior, rigorosamente vestido e efectuar junto de cada casa um peditório recorrendo a um conjunto de quadras de conteúdo parodiante. cabe ao "padre" efectuar a leitura do referido texto:

o "padre" (através de um megafone)
- Linda donzela vinde à janela
trazei o chouriço
deixai a morcela

(gritos do grupo) óoo cão

Debaixo da ponte
peixe havia
o mijo era quente
a merda era fria

(gritos do grupo) óoo cão

É de requi'eterno
é de patas para o ar
tu que estás no esterco
deixa-te lá estar

(gritos do grupo) óoo cão

Dás coiçes a quem passa
a mim não mos dás
que eu não passo lá

(gritos do grupo) óoo cão

Para quem são os chouriços?

(o grupo responde) para os padres e para os bispos

Para quem são as farinheiras?

(o grupo responde) para as raparigas solteiras

E para quem é a moedinha (nota, chouriço) que a... nos vai dar?

(o grupo responde) para nós!!!

agradecem e prosseguem o percurso em ambiente de completa animação e folia. outrora, segundo a memória colectiva local, era costume o "sacristão" transportar um balde cheio de urina e nas casas onde lhes era negada a dádiva, o "padre" molhava uma vassoura velha neste balde e borrifava a respectiva casa. hoje, quando esta situação se repete, ainda se ouvem comentários: "mija na porta". importa ainda salientar que este grupo formado, fundamentalmente, por rapazes e raparigas (juventude da aldeia), no final da prática, reunem-se num café local para comerem (uma especie de refeição-ritual) os respectivos enchidos e restantes dádivas.

atendendo ao actual quadro politico de valorizações nacionais e internacionais em torno do património cultural imaterial, estas e outras manifestações locais (vaca galhana - toulões; enterro do entrudo-ladoeiro) merecem ser divulgadas, apoiadas e perservadas, pois representam esse entrudo, espelho de fecundas recriações, espontaneidades e reinvenções da vida em sociedade, que ainda teimam em pautar o calendário festivo anual da região.

*brevemente colocarei um pequeno filme para se poder sentir e perceber todo esse riquissimo ambiente de folia e espontaneidade que se viveu nessa noite.




terça-feira, março 08, 2011

(morallyrotten)

*cultos agrários
a morte do entrudo - a morte do inverno

sábado, março 05, 2011

TEMPO DE ENTRUDO

(Biblioteca Nacional)


o entrudo ou o carnaval inscreve-se nessas complexas celebrações ciclicas anuais e tal como reforçou Ernesto Veiga de Oliveira, a par com o natal e o s. joão, "são as que maior riqueza de aspectos, variedade de elementos e complexidade de significações apresentam" (festividades ciclicas, p.51 ). o ciclo do carnaval, embora seja efusivamente celebrado ao longo dos 3 dias que vão do domingo gordo à terça-feira gorda, conhecia o seu inicio, na maioria das regiões do país, com as celebrações dos "compadres" e das "comadres" (duas últimas quintas-feiras que antecedem o carnaval). durante este periodo carnavalesco, tudo ou quase tudo é permitido, são as denominadas licenciosidades carnavalescas que se traduzem em multiplas inversões, sátiras com conteúdos de critica social, etc. a máscara e o acto de mascarar permite isso mesmo, mudar de caracter, ser "outro" durante este mesmo periodo. pelas terras da beira, em particular pelo território do concelho de idanha-a-nova, já pouco ou nada resta desse imenso e rico repertório de práticas tradicionais, com as suas caracterizações próprias, com as suas definições pessoais e colectivas, os seus actos criativos, os seus traços significativos. num olhar de proximidade junto da extensa obra de jaime lopes dias (etnografia da beira) aparecem documentadas e circunscritas a este mesmo território algumas destas práticas tradicionais, hoje extintas:

- "caqueiradas" - "encherem velhas panelas ou potes de barro com latas, cacos velhos e atirarem-nas para dentro das casas que tenham a porta ou janela abertas nas noites de carnaval".

- "troça feita ao som dos chocalhos"

- "chorar o entrudo"


tudo se transformou, é um facto, em "paradas e desfiles ao jeito brasileiro", onde a componente monetária se impõem em todos os dominios e assume o geral das motivações criativas. muitas destas manifestações carnavalescas de cariz tradicional e que o território do concelho de idanha-a-nova conheceu, muito pouco foi devidamente registado e estudado. a titulo de exemplo: sobre o que era o "dia dos compadres" e das "comadres" quase nada ficou registado. hoje temos apenas a memória do que foi, mas não temos esse documento visual, esse estudo, onde através da imagem pudessemos compreender o que tinham sido essas formas de viver esta e outras celebrações, para que do mesmo modo, chegassemos a perceber a totalidade e a dimensão das transformações.pensemos seriamente nisto...

por outro lado e a titulo de nota, refira-se que as sociedades não são estáticas, elas avançam e recuam, confrontam-se, procuram-se, (re)criam-se, assim o confirmam as actuais lógicas relacionadas com as "paradas e os desfiles de carnaval" que por todo o país se celebram, com os seus "reis e rainhas" extravagantemente bem pagos, com todos os clientelismos apensos (politicos, economicos, ideológicos, etc). seria duplamente importante, um estudo de caracterização sociológica e antropológica sobre estas práticas e sua cartografia, conjuntamente com os seus recintos, associações, circuitos, etc, à escala do país e porque não à escala da peninsula ibérica?

*para finalizar e porque é carnaval, ninguém leva a mal...comam e bebam, porque vem ai a Quaresma com os seus magros e penosos jejuns.


quinta-feira, março 03, 2011

(?)

fear the Lords who are
secret among us

j. morrison, abismos, p. 74.

quarta-feira, março 02, 2011

ON THE ROAD

ourense, espanha, 2010.

terça-feira, março 01, 2011