domingo, dezembro 30, 2007

MOMENTOS 2007....



Albarracin-Espanha, 2007.



A TODOS OS QUE VISITAM ESTE LUGAR VIRTUAL, UM BOM ANO DE 2008!

BEM HAJAM A TODOS!

MOMENTOS 2007....






Santo André, Estrelinha do mar, do vento e da terra...meu centro cósmico!

Eis o teu mar...

MOMENTOS 2007....






Passeio pedestre em Yuste (La Vera-Espanha), 2007.


Despeço-me deste ano 2007 com fragmentos do tempo, afinal o que é o tempo?

sexta-feira, dezembro 28, 2007

Arquitectura tradicional



Palheiro em xisto, Cegonhas, 2007.

Ainda vão assinalando no espaço urbano renovado das aldeias estas arquitecturas tão importantes relacionadas com o labor dos campos e com os animais de carga e de transporte (burros, machos, éguas). Seria de capital interesse a elaboração de um inventário exaustivo sobre estas construções tradicionais. Pois, como é sabido, elas constituem uma das expressões culturais mais significativa de cada estrutura socio-economica; é a expressão da experiência histórica de cada colectivo.

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Cantares de Natal, Salvaterra do EXtremo


Deixei o meu gado,

Deixei-o perder

Por ver o Menino

Que estava a nascer


Vós sois Cristo,

Vós sois nobre,

Hoje é o dia.

Bendito, adoremos.


Deixei o meu gado,

Deixei quanto tinha

Por ver o Menino

Na sua lapinha.


Vós sois Cristo, etc.


Deixei o meu gado,

Deixei-o na serra

Por ver o Menino

Na sua capela


Vós sois Cristo, etc.


Vinde pastores,

Vinde serranas

Adorar o menino

Da Virgem Soberana


Vós sois Cristo, etc.


in Jaime Lopes Dias, Etnografia da Beira.


A quadra natalícia, principalmente nos meios rurais, projecta um intenso frenesim de imaginários pastoris demasiado presentes na memória colectiva das comunidades. A musicalidade que preenche e aconchega o ritual está repleta de elementos fascinantes. Elementos que traduzem, ou traduziram, em parte, a vida quotidiana dos grupos, em conexão permamente com outros fluxos extra-local. Nesta quadra recolhida por Jaime Lopes Dias, aparecem os elementos serra e serranas, terá alguma coisa a ver com a vinda dos serranos para estas terras raianas?? é possivel, pois Salvaterra era um dos destinos mais procurados pelos transumantes. Fica a duvida!


quarta-feira, dezembro 19, 2007

O CICLO PASTORIL E SUA GESTÃO



O ciclo pastoril é gerido com a máxima prudência pelo pastor. O rebanho, é o seu foco primordial, o seu centro cósmico, tudo parte desta fecunda relação, entre o pastor e o seu rebanho. É necessário vender a criação, escolher as melhores fêmeas para substituir as perdas, tudo tem que continuar na óptica da maximização. Por vezes também se equacionam as emoções, aquele borrego com uma estrelinha na testa, a cor, a aquele que pelo seu caracter dócil se assemelha a um cão, perseguindo os passos do pastor, aquele que agrada tanto à sua mulher como à sua neta, etc. Porém, na escolha das borregas (porque os machos são na maioria todos vendidos), prevalece a questão hereditária, ou seja, quando as mães são de boa qualidade, a escolha está definida. Por outro lado, a melhor altura para vender borregos, é precisamente a época de Natal, daí que tudo esteja calculado e gerido para que em finais de Outubro e inicios de Novembro se efectuem as parições. Tudo está calculado, épocas de fartura e épocas de magreza. Geralmente, os pastores vendem os borregos a peso morto, ou seja, depois de devidamente mortos no matadouro e desmanchados. Porém, também é costume vender a olho e a peso, tudo depende do ano e das respectivas economias nacionais, assim como locais. Como me comunicou um pastor " É conforme o ano, este ano foi um ano bom!".

segunda-feira, dezembro 17, 2007

A IMPORTÂNCIA DO PATRIMÓNIO IMATERIAL


(Fonte: UNESCO)
ATLAS DAS LINGUAS DE AFRICA EM PERIGO DE DESAPARECEREM...

sábado, dezembro 15, 2007

AINDA A GAITA DE FOLES...



A dimensão festiva pautada pela sonoridade da gaita-de-foles.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

GAITA DE FOLES



Tudo em prol de um importantíssimo instrumento musical que pauta as diversas ritualidades dentro do mundo pastoril. Aliás, a sua tão caracteristica sonoridade é presença obrigatória nas novas encenações festivas ligadas ao mundo pastoril.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

REVISTA ETNOGRÁFICA



Já se encontra à venda o último número da revista ETNOGRÁFICA, editada pelo CEAS (centro de estudos de antropologia social, do ISCTE). Neste fabuloso volume, destacam-se os contextos de mudança ligados ao mundo rural.


O conteúdo:


Determination and chaos according to Mozambican divination
Paulo Granjo

Contacto, conhecimento e conflito. Dinâmicas cultuais e sociais num movimento evangélico cigano na Península Ibérica
Ruy Llera Blanes

DOSSIÊ: Usos da ruralidade

Usos da ruralidade: apresentação
João Leal

“A poesia dos simples”: arte popular e nação no Estado Novo
Vera Marques Alves

O comunismo mágico-científico de Alves Redol
José Neves

“A caminhada até às aldeias”: a ruralidade na transição para a democracia em Portugal
Sónia Vespeira de Almeida

A procura do turismo em espaço rural
Luís Silva

Usos da ruralidade na arquitectura paisagista
Sandra Xavier

AULA ERNESTO VEIGA DE OLIVEIRA

“Aromas de urze e de lama”: reflexões sobre o gesto etnográfico
João de Pina Cabral

OFÍCIO

Itinerário de aprendizagens sobre a construção teórica do objecto saber
Telmo H. Caria


COMENTÁRIO

East and West. Orientalism, war and the colonial present
Jackie Assayag


RECENSÕES

Luís Cunha
Memória Social em Campo Maior
Por Eduarda Rovisco

Maria Antónia Pires de Almeida
A Revolução no Alentejo
Por Paula Godinho

Dinâmicas do Mundo Rural
Por Luís Cunha


Mais informações: http://ceas.iscte.pt/

terça-feira, dezembro 11, 2007

PARA PENSAR...





Aludindo a um conjunto de expressões utilizadas em inúmeras obras acerca do tão enunciado e desbravado conceito de património, deixo-vos a incessante procura da chave:

"Alquimia do património" (Lamy, 1996); "Paixão patrimonial" (Guillaume, 1980); "Reinvenção do património" (Bourdin, 1984); "Loucura patrimonial" (Jeudy, 1990); "Alegoria do património" (Choay, 1992); "Patrimomania" (Martin-Granel, 1999).

sábado, dezembro 08, 2007

EL REAL FUERTE DE LA CONCEPCION






RUINAS DO REAL FUERTE DE LA CONCEPCIÓN, Aldea del Obispo (Castilla y Leon-Espanha).

Situada na linha fronteiriça raiana, a Aldea del Obispo traça uma linha simétrica perfeita com a histórica vila portuguesa de Almeida. Numa das minhas intermitentes viagens andarilhas pela tão fascinante linha raiana denominada fronteira que demarca como também aproxima duas nações, deparei-me no meio de um local ermo, com um ruinoso conjunto arquitectónico sublime. Aqui deambulei algumas horas pelos confusos espaços fascinado. Trata-se de um local realmente magnifico. Vim depois a saber que existe um pequeno museu local e alguns guias explicativos deste histórico lugar. Aqui nos vos deixo alguma dessa informação recolhida:

"RUTA DE LAS FORTIFICACIONES DE FRONTERA.
Aula Histórica del Real Fuerte de la Concepción

Tras sesenta años de unión de las Monarquias ibéricas, la proclamación del Duque de Braganza como rey de Portugal desató una guerra que duraria veintisiete años y provocaria la reorganización del antiguo sistema fronterizo. Durante los años 1661 a 1664 se desarrollaron en la área salmantina las operaciones del Duque de Osuna al mando de las tropas españolas.
Para la mejor defensa del área del Campo de Argañán, decide el Duque erigir una fortificacion en el término de Aldeia del Obispo, frente a Vale da Mula y distante una legua de Almeida. El 8 de Deciembre de 1663 comienzan los trabajos en lo que se conoceria como El Real Fuerte de la Concepción, en cuya construcción participaron 3.500 hombres durante tan solo dos meses. La obra se compone de un único edificio de planta cuadrada hecho de tierra y madera, con un baluarte en cada esquina, y rodeado de un foso.

El consejo de Guerra decidió demoler el Fuerte a finales del mismo año, ante las derrotas del Duque en la comarca y la retirada de sus ejércitos, con lo que el mantenimiento del Fuerte de la Concepción resultaba sumamente costoso y arriesgado por su proximidad a la linea portuguesa. Su destrucción se llevó a cabo en Octubre de 1664.

La situación de indefensión en toda la frontera de Castilla frente a las incursiones portuguesas va a provocar la reconstrucción del Fuerte de la Concepción en la época de Filipe V, comenzandose a construir una nueva fortaleza en el eño 1736 (...) a lo largo del siglo XVIII tan solo es utilizado en una ocasión por el Conde de Maceda durante su ofensiva sobre Almeida, teniendo también escaso uso posterior. En el siglo XIX la vida útil del Fuerte se limita a la Guerra de la Independencia, quando es utilizado alternativamente por tropas francesas e hispanas, portuguesas e inglesas en las distintas ofensivas que se emprenden en la zona.

El general inglés Craufurd dinamitó el Fuerte en el dia 20 de julio de 1810 para proteger su retirada ante el avance de los franceses, dejando completamente inutilizada la construcción, y en unas condiciones de ruina próximas a las que se conserva en la actualidad."

(in Folheto explicativo distribuido pela Aula Histórica)

sexta-feira, dezembro 07, 2007

A TRANSUMÂNCIA


(foto-Maison de la Trashumance)

Esta poderosa imagem diz-nos tudo acerca do que é (ou do que foi) uma transumância a pé.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

ARQUIVOS DA MEMÓRIA



O Centro de Estudos de Etnologia Portuguesa da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa acaba de lançar mais um brilhante número onde se equaciona um diversificado rol de problemáticas de capital interesse. Para além das temáticas serem de extrema importancia e actualidade, o Centro disponibiliza a publicação on-line totalmente gratuita.

Aqui vos deixo o contacto: http://www.fcsh.unl.pt/antropologia/

segunda-feira, dezembro 03, 2007

COZINHAS DA MEMORIA


Espaço de uma antiga cozinha, Salvaterra do Extremo, 2006.

Este conjunto de objectos ligados ao espaço da cozinha pretencem hoje à classe de objectos decorativos. Passaram a enquadrar o espaço decorativo da casa, aparecem com frequência nos diversos espaços da casa. Aliado a estes objectos construiram-se memórias, hoje recordadas não apenas na sua materialidade fisica, mas também naquilo que têm de imaterial, ou seja, o seu ritual festivo de utilização ao longo do ano, as práticas culinárias, as suas nomenclaturas, os inumeros acontecimentos que cada uma narra, a pessoa que os fez, etc. Por outro lado, hoje muitos destes objectos ocupam um lugar central nas novas encenações patrimoniais, preenchem esse passado reinventado que nunca foi passado, tornam-se emblemas identitários, são portanto parte desse alucinante discurso patrimonial. Afinal não eram apenas as bacias, as sertãs, os alguidares que se utilizavam durante a matança do porco???

domingo, dezembro 02, 2007

sábado, dezembro 01, 2007

SIMPOSIO ARCHIVO Y FONDOS DOCUMENTALES PARA EL ARTE CONTEMPORANEO



Decorreu nos dias 29, 30 e 1 de Dezembro de 2007 na cidade de Cáceres (Espanha) um conjunto importantíssimo de palestras relacionadas com arquivos, fundos documentais e arte contemporânea. O grande proposito deste brilhante evento foi a memória e obra de um dos maiores artistas do século XX , WOLF VOSTELL (1932-1998). Obra essa que pode ser vista nas antigas instalações de um histórico lavadouro de lãs, convertido ainda pelo artista em Museo Voltell Malpartida (Malpartida de Cacéres). Um lugar mágico, cheio de boas energias e que vale mesmo, mesmo, mesmo a pena visitar!!

terça-feira, novembro 27, 2007


Rosmaninhal, 2007


A aldeia do Rosmaninhal encerra um conjunto de práticas ligadas ao pastoreio de capital interesse. Trata-se de um território vincado pelas agruras climáticas mediterrânicas. Com frequência se encontram burros, éguas, machos, cavalos nas imensas propriedades, outrora douradas pelas searas de trigo. Por aqui, diz o povo, que até as pedras davam trigo. Hoje, tudo se alterou, ficaram as impressionantes marcas numa paisagem intensa e monótona. Porém, muitas das ancestrais práticas continuam a pautar os dias claros e límpidos desta remota aldeia. É o caso do tradicional pastoreio de percurso, geralmente feito a pé, mas que muitos não dispensam a preciosa ajuda do burro. Associado a esta prática tradicional de pastoreio um saber especializado foi-se desenvolvendo, apurando, decifrando. Quem nunca ouviu um "brado" de um pastor, um assobio fino e melódico, um palavrão direccionado, uma certeira pedrada, um baloiçar de cajado? Alguns desses chamamentos passaram de geração em geração, são formas arcaicas de uma linguagem entre o homem e o animal. Alfabetos esquecidos que a UNESCO considera uma urgência preservar. É precisamente isso que estamos a fazer!

segunda-feira, novembro 26, 2007

PASTOREIO NOMADA




A cultura do pastoreio nómada reclama perante este mundo cada vez mais globalizado que a sua ancestral arte não seja vista como algo folclorico, mas sim como uma cultura milenar produtora de alimentos de qualidade, obtidos com a gestão mais adequada do meio ambiente.

OBJECTOS ESQUECIDOS



Arca forrada com pele de bovino com uma fechadura ornamental em ferro forjado, Quintã, 2006)

Digo objectos esquecidos, porque todos nós temos em casa objectos que por algum motivo perderam a sua funcionalidade, deixaram de servir, ter utilidade, passaram pois à categoria de objecto-memória, estão fora do tempo, encontram-se numa espécie de limbo temporal. É o caso desta arca religiosamente guardada numa velha casa. Apenas serve para guardar algumas colchas bordadas e algumas mantas de lã, também elas fora de uso. Porém, são objectos de memória, marcam um tempo, uma vivência, uma encruzilhada de destinos. Entre esta trama de sentidos situa-se a instituição museu.

domingo, novembro 25, 2007

MEMORIA E TESTEMUNHOS ORAIS


Seminário Internacional

Memória & Testemunhos Orais


Lisboa, 22 e 23 de Novembro de 2007

Fundação Mário Soares
Instituto de História Contemporânea/FCSH/UNL

(Guardar programa em PDF)

5.ª feira, 22 de Novembro de 2007

09.30 Recepção dos Participantes

10.00 Abertura do Seminário

Alfredo Caldeira (FMS
Fernanda Rollo (IHC)
10.15 Utilizações da História Oral

Luísa Tiago de Oliveira (ISCTE)
11.00 A História Oral e os Movimentos Sociais

Paula Godinho (UNL)
11.45 Debate

13.00 Intervalo para almoço

14.30 História Oral – Metodologias

Dulce Freire (IHC)
Inês Fonseca (CNRS)
15.30 Debate

16.00 Intervalo café

16.15 Testemunhos Orais, Memória e História

Paula Borges Santos (IHC)
16.45 Debate

17.00 Constituição de acervos de História Oral: entre actividade científica e prática arquivística

Luciana Quillet Heymann (CPDOC da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, Brasil)
18.00 Debate

21.00 Média & Memória Histórica
Imagens e Sons apresentados pelos Autores

Geração de 60 de Diana Andringa
Alentejo - Réstea de Esperança de Jacinto Godinho
Crónica do Século/O Século das Mulheres de Maria Augusta Seixas
Timor - A última bala é a minha vitória de Manuel Acácio
6.ª feira, 23 de Novembro de 2007

10.00 Arquivo da Memória e História do Século XX

Armando Malheiro da Silva (CEIS 20)
10.45 Intervalo café

11.00 Projecto de Arquivo de Testemunhos Orais

António Coelho e Hugo Guerreiro (FMS)
11.45 Debate

13.00 Intervalo para almoço

14.30 Arquivos Sonoros: o caso da Radiodifusão Portuguesa

Eduardo Leite (RDP)
15.15 Jornalismo e memória histórica

Mesa-redonda coma participação de João Coelho (rádio), Eduardo Dâmaso (imprensa escrita) e Jacinto Godinho (televisão)
16.00 Debate

16.45 Intervalo café

17.00 Direitos de Autor e Propriedade Intelectual na União Europeia

José Antonio Suárez (Espanha)
17.30 Produção de conteúdos multimédia e direitos de autor

Manuel Pedroso Lima
18.00 Debate

18.30 Encerramento




Apenas faço referência a este importante evento que decorreu na Fundação Mário Soares, pela sua extrema importância no panorama actual das ciências sociais. Estive presente e registei um conjunto de iniciativas inovadoras em torno da constituição, preservação, valorização dos testumunhos orais. Apreciei o fértil diálogo entre a antropologia e a história.

domingo, novembro 18, 2007

A TODOS OS PASTORES



A vida de pastor, ao contrário do mais idílico que possa parecer, é uma vida dura, muito dura mesmo, repleta de muitas preocupações, principalmente na altura das parições. Altura em que o pastor mal têm tempo para repousar durante a noite, tal é a procupação em assistir os frágeis borregos acabados de nascer. É necessário "afilhar" os borregos, ou seja, coloca-los a mamar na respectiva teta da mãe. Contudo, o pastor guarda momentos de carinho mágicos para com estes pequenos animais, só ele sabe quem é quem, só ele decifra esta imensa beleza, só ele é capaz de verter lágrimas pelos seus queridos animais...

terça-feira, novembro 13, 2007

AOS PASTORES TRANSUMANTES...


Entrevista ao Ti Zé Lourenço, 2005.

Pastores transumantes, Ti Zé Camilo e Ti Zé Lourenço, 2005.

Estamos no mês de Novembro e era precisamente durante este mês que os rebanhos da Serra da Estrela iniciavam a sua lenta e melodiosa marcha até aos verdejantes campos do concelho de Idanha-a-Nova. A este tão remoto e ancestral movimento pastoril, intitula-se de TRANSUMÂNCIA, etimologicamente significa: TRANS - "além de" e HUMUS - "terra", ou seja, "ir além da terra". Por outras palavras resume-se a uma deslocação periodica de gados entre dois regimes determinados de clima diferente. Um identificado como invernal e descendente, quando, face à escassez de pastos causada pelas neves das terras altas, os rebanhos desciam para os pastos das regiões mais amenas. O outro, estival ou ascendente, caracterizado pela deslocação de rebanhos para as terras altas. O grande mestre Orlando Ribeiro descreve do seguinte modo uma Invernada dos serranos para os campos da Idanha:

"(...) É pelos Santos que o grosso dos rebanhos deixa a Serra. Dantes um maioral tomava entrega dos gados de toda a povoação; quando voltava faziam-se as contas dos gastos e repartia-se a quantia proporcionalmente ao gado que cada um tinha mandado. Hoje uma só aldeia pode mandar vários rebanhos, que raro atingem mais de 1500 cabeças. O lugar de invernada para os gados do Sabugueiro e, de um modo geral, para os da zona mais elevada da Serra, é nas Campanhas da Idanha. O itenerário do Sabugueiro até lá, a via pecuária mais importante da região, passa através da Serra, quando o tempo o permite (em direcção a Cântaro e à Nave de Santo António), ou contornando-a por Valezim, Loriga, Alvoco, Unhais até ao Tortozendo. Atravessam a fértil Cova da Beira e, pelo Fundão, galgam a cumeada da Gardunha. Por Alpedrinha, Vale dos Prazeres, ainda encostados à montanha, entram no Campo, e por Orca, S. Miguel de Acha e Oledo ganham Idanha-a-Nova. Alguns pastores ficaram pelo caminho, arrendando pastos para os gados onde lhes pareceu que os havia abundantes."

Relativamente à composição, práticas e quotidiano deste impressionante "exército", Ferreira de Castro no seu romance A lã e a neve, descreve de uma forma notável e impressionante, esta ancestral prática:

"(...) Era a época em que, anualmente, se iniciava a transumância, levando-se o gado para longínquas campinas, onde a invernia se fizesse sentir menos. O primeiro rebanho a abalar, para a viagem de cinco, seis dias, que tanto exigia a caminhada dali até à Idanha, fora o do Canholas, com ovelhas de mais quatro pastores. Outros partiram depois (...) eram quase trezentas ovelhas, brancas e negras, mosaico que cobria toda a largueza da estrada, a caminho da terra baixa. À frente e aos lados, mantinham guarda o "Lanzudo" e outros cães, menos o "Piloto", que fora considerado débil para a longa jornada. Atrás marchavam Horácio, o Tónio, o Aniceto, o Libânio, o filho do tio Jerónimo, e um burro por cada homem. Os onagros transportavam bardos e ferradas; e os seus alforges, com alimentos no fundo, guardavam espaço para recolha de cordeiros que dessem em nascer, como sempre acontecia, durante o trânsito. As ovelhas ora marchavam lestas e muito juntas no seu passo curto, se os gritos ou pedradas a isso impeliam; ora abriam clareiras no rebanho e cortavam à esquerda e à direita, à cata do pasto vizinho da estrada. Às vezes, os seus focinhos orientavam-se para a folhagem que tinha dono sempre pronto a barafustar contra as ladras; e, por mor dessas queixas e até de multas policiais, outras pedras e outros berros caíam sobre as famintas, que retomavam o caminho, na esperança de serem, além, mais felizes. (...) Finalmente, ao sétimo dia, vencida a estrada imensa, cruzando vales, grimpando serras, os condutores do rebanho transumante, todos sujos, cara negra de barba, corpos esgotados pela andança, viram, ao longe, as campinas da Idanha, seu último objectivo."

Era, de facto, um impressionante espectáculo! Hoje, restam as poucas ou nenhumas memórias desta árdua caminhada. Ainda assim, foi possivel encontrar alguns testemunhos vivos, deixo-vos uma memória viva, o PastorTransumante, José Lourenço :

"Tinha 30 anos quando começei a ir com o gado para a Idanha. Em primeiro iam umas 150 ou 200, depois iam as outras mais tarde. As mais borreguinhas iam primeiro e mais tarde ia o vazio. Eram as borreguinhas que tinhamos criado no ano anterior, os carneiros e assim; a gente chamava o "alfeire" ao vazio. Os pastores que iam eram conforme o gado, às vezes iamos 4, outras 5; um burrinho para levar a merenda, pão, toucinho, que era para todo o inverno. Quando chegavamos lá tratavamos da mulher para comprar a farinha para o pão e depois a gente ia lá a buscar. O caminho era quase sempre pelo Vale Formoso. Depois iamos para a Capinha, daqui iamos para o Pedrogão, depois daqui a gente passava para lá. A gente não tinha sítio certo, a primeira noite, dormiamos quase sempre nas Murteiras Redondas, era logo ali ao cimo da Idanha. Depois iamos para o sítio que tinhamos comprado, era ali na Vigia, no Lemite e no Vale de Couto ali por baixo da Sª da Graça. A gente dormia em qualquer lado enrolado na capa. Também íamos para a Barragem, íamos pela quelha. Eu sem gado cheguei a ir para cima, numa noite estava no Oledo, vim a dormir à Orca, depois Fundão até Manteigas. Num inverno fui lá três vezes à Idanha, três vezes para baixo sem gado, num dia ia para cima. O Manel Moita era meu amigo, eu estava na Vigia e ele no Cabeço das Canas. Arrendava-se a três meses. Quando a gente ia lá a arrendar era em Agosto, íamos ao Campo a comprar a pastagem. As contas eram feitas à cabeça, cada um pagava um tanto por cabeça. Tive lá anos de 40 contos em despesa, tudo incluido. Ao fim entrava tudo em conta."

(Extracto do Diário de campo nº5, Julho de 5)

- Pastor transumante, José Lourenço, 92 anos, Manteigas)

Bibliografia

Castro, Ferreira (1990). A lã e a neve. Guimarães editores, Lisboa.

Ribeiro, Orlando (1995). Opúsculos geográficos. Estudos regionais, Fundação C. Gulbenkian, Lisboa.

domingo, novembro 11, 2007

A oliveira: um simbolo do mediterraneo





Por esta altura os campos tornam a receber algum frenesim de outrora, é o tempo da apanha da azeitona, esse fruto precioso de onde se extrai à muitos séculos o denominado ouro do mediterrâneo. As mais remotas técnicas de extracção conhecem-se na bacia do Mediterrâneo desde a IV dinastia egípcia. Em Portugal, surge em conjugação com outras culturas, nas proximidades das povoações. Na região da Beira Baixa a plantação de oliveiras teve um crescente impulso nos finais do século XIX, alterando em parte, a fisionomia da paisagem outrora preenchida quase exclusivamente por sobreiros e azinheiras. Hoje, estas paisagens tornaram-se simbolos identitários de muitos territórios e das suas gentes, que heroicamente souberam modificar muitas encostas de montanhas sem interferir com o entorno natural. Quem ainda não admirou extasiado a paisagem cascalhenta dos terraços do tejo que acompanha a linha da Beira Baixa, a partir de Belver até Vila Velha de Rodão? Seria importantíssimo o estudo, valorização e preservação desta memória colectiva associada a esta paisagem. Relativamente às técnicas artesanais de extracção de azeite, no concelho de Idanha-a-Nova, em particular nas aldeias de Proença-a-Velha e Idanha-a-Velha, existem excelentes exemplares musealizados. Para saber mais sobre estas arcaicas tecnologias, encaminho-vos para uma leitura urgente e de excelência, a obra de Benjamim Pereira,Tecnologia tradicional do azeite em Portugal, editada pela Câmara Municipal de Idanha-a-Nova.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Ti DOMINGOS: O PASTOR FILOSOFO


Ti Domingos "Menoucho", pastor, Penha Garcia (Falecido)

Há muito tempo que na minha cabeça pairava a ideia de fazer aqui, neste lugar virtual, uma sentida homenagem a alguns pastores com quem passei horas extraordinárias de aprendizagem e que, entretanto, já partiram deste efemero mundo.
Conheci o Ti Domingos numa tarde clara de Abril, passava na estrada e vi o seu rebanho de cabras a pastar ali próximo. Parei o carro e dirigi-me a uma pessoa que estava solenemente apoiada no seu cajado, depois de me apresentar e de lhe pôr ao corrente do meu árduo labor, consentiu de imediato a minha presença e o rol das infinitas perguntas que sempre trago nos meus pequenos cadernos pretos. Enquanto as perguntas e as respostas fluiam, as suas cabras pastavam calmamente a fresca erva que a serra oferecia. Falou do mundo, da morte, das guerras, da sua querida Penha Garcia, das filhas, das cidades, das suas cabras e dos dificieis partos que já tinha assistido, das doenças das cabras que tinha milagrosamente curado, das mulheres, do seu queijinho que fazia todos os dias com a maior das dedicações. Recordo com saudade uma terna conversa:

"Comecei esta vida de pastor aos 6 anos ao pé do mê pai. Dantes o mê pai era munto recto para nós, pois coitadinho, ele não tinha nada para nos dar a comer e pedia-nos a morte, tinha vontade que morrêssemos, quer dizer, cobiçava a vida dessas pessoas que não tinham filhos. Não tinham filhos, não tinham despesas! era o atraso. Estamos os seis vivos. Depois aos 8 anos começei a guardar porcos, andava com outros, batiam-me munto. O mê pai era cabrero , aprendi com ele. Nessa altura começei a guardar porcos na Espanha, logo por cima das Termas. O mê pai fez-me na Espanha, poi era cabrero lá. O mê avô estava aqui na parte de cá, a minha mãe foi lá a desovar. A minha avó era partera e ódepoi o mê avô dizia-me assim: tinha lá um cortiço para pôr coisas, como esses das abelhas, mas maior. - Olha tu nasces-te aqui ao pé deste côrtcho. Depois só vim para Portugal tinha 16 anos, começei a andar com uma junta de vacas e a fazer vida de ganhão. ódepoi, já adulto a minha mulher morreu e as filhas já se tinham casado, agarrei-me às cabrinhas. Há 42 anos que aqui estou no Gorralão. As serras da frente são a Pedraninha, a Matafome e a Borrasca, ali mai adiante é Brejos. Antigamente pagava por aqui estar 100 alqueires de trigo. Era a renda anual, era de S. Miguel e S. Miguel.

(Entretanto começa a merendar: pão, chouriço e o seu famoso queijinho de cabra. Tudo cortado à navalha. Estamos sentados atrás de uma velha casa)

A minha vida foi assim, trabalhar munto. Andei no contrabando do café com 30 quilos às costas, ódepoi aborreci-me, começei a andar com as pernas escorralhadas em cima do cavalo. Olhe, podia-me ter matado afogado lá no rio, passavamos lá num sítio, na Espanha, aquilo eram umas fragas, quando era de Inverno aquilo ajuntava ali munta água, nós passavamos num sítio ruim, se caíssemos não havia salvação. Levavamos café para lá. Afogaram-se alguns, mas não eram daqui. Um secalhar até o mataram, os espanhois vinham ao nosso encontro. O café umas vezes era mai caro outras mai barato. É assim a minha vida, agora estou aqui, conheço esta serra toda!"

(Extracto do Diário de Campo nº3, 27 Abril de 2005)

quarta-feira, outubro 31, 2007

O CULTO DAS ALMINHAS




Alminha de uma casa particular em Manteigas.

Proximo dos velhos caminhos, estradas, ruas, avenidas, veredas, etc., encontram-se com bastante frequência pequenos nichos, ora escavados em granitos, ora em retábulos de madeira, ora em azulejos, onde no geral se representa o purgatório. Chamam-lhe "alminhas", "nichos das almas" ou simplesmente "almas". Estão relacionadas com a crença do Purgatório, onde todas as almas têm que passar para serem purgadas com fogo dos pecados ditos veniais, ou seja, os pecados mais leves. Podendo ser abreviadas através dos sufrágios dos vivos, daí encontrar-se em alguns um pequeno cofre para esmolas e dito associado: Oh vós que ides passando, lembrai-vos de nós que estamos penando, rezai um Pai-Nosso e uma Avé-Maria pelas almas que sofrem no Purgatório."
A crença neste ardente lugar está profundamente ligada ao II concilio de Leão (1124), onde se afirmou dogmáticamente a existência do Purgatório. À cerca das suas origens alguns ligam-nos aos altares Romanos dedicados aos Lares Viales e aos Lares Compitales, erigidos junto aos caminhos e nas encruzilhadas. Vergílio Correia chegou mesmo a chamar às alminhas as "descendentes directas" daqueles altares, isto pelo facto dos dois altares estarem localizados em sitios idênticos. Mas depressa se refutaram todas as teorias relacionadas com os altares Romanos. Uma vez que estes altares simbolizavam génios agricolas, protectores dos campos, das culturas e dos trabalhos rurais. Em seu louvor se costumava erigir altares nos sítios em que duas ou mais propriedades se interceptavam, para que a protecção divina pudesse estender-se a todas simultaneamente. assim, como o lugar do encontro de várias propriedades fica quase sempre numa encruzilhada de caminhos, apareceram os deuses Lares Compitales - "génios das encruzilhadas". Quanto aos Lares Viales, estes apareceram como protectores dos viajantes, pois começaram a ser erigidos nas margens dos caminhos. De génios agrários, os Lares transformaram-se em divindades que defendem os homens do perigo dos caminhos e das encruzilhadas. Outros povos houve que também pediram ajuda a protectores dos caminhos e encruzilhadas, entre eles os gregos que colocavam nos caminhos capelas sob a invocação de Apolo.
Contudo, a igreja dos primeiros séculos preocupou-se em adaptar as antigas crenças ao cristianismo, daí o facto de assimilar muitos monumentos levantados pelos pagãos nos caminhos e encruzilhadas. Dessa morosa substituição, diz Flávio Gonçalves "devem ter nascido as cruzes de madeira e cruzeiros de pedra que naqueles mesmos lugares se observam por toda a Europa ocidental e central - e que em Portugal também apareceram muito antes das alminhas. O simbolo da fé de Cristo ficou a ocupar o lugar dos altares do paganismo". Segundo o mesmo autor, todos estes cruzeiros são de facto muito mais antigos que as alminhas, pois vieram substituir claramente os Lares, daí terem sido colocados em locais idênticos e com a mesma função. Quanto às alminhas, pois não têm qualquer ligação directa com o culto praticado entre os latinos, embora haja alguma semelhança entre a localização dos monumentos. Mas os altares dedicados aos Lares tinham como intenção a protecção dos campos e dos viajantes, enquanto que as alminhas apenas pedem a oração dos que por elas passam, em favor das almas do Purgatório.

Muito havia ainda por dizer, por exemplo, sobre a simbologia da encruzilhada, sobre o lendário popular em torno das almas penadas, sobre os prantos que lhes cantam nas escuras noites da Quaresma e que tão bem estudou Margot Dias (encomendação das almas), sobre a simbologia do próprio retábulo, sobre o culto actual, etc...

Referências bibliográficas:

Chambino, Eddy (2002), O culto das almas expresso na religião popular: uma viagem pelas crenças e supertições em torno das almas", Lisboa, FCSH-UNL,Tese de licenciatura.
Correia, Virgilío (1937), Etnografia artística.
Gonçalves, Flávio (1959), Os Paineis do Purgatório e as Origens das "Alminhas" Populares, Matosinhos.

terça-feira, outubro 30, 2007

Cont. NOITE MAGICA


Jovens cavaleiros, noite de S. João, Rosmaninhal 2007.

A fogueira de "rosmanos", noite de S. João, Rosmaninhal 2007.

Um cavaleiro audaz, noite de S. João, Rosmaninhal 2007.

A coragem, noite de S. joão, Romaninhal 2007.

Martinho, o alferes festeiro, Rosmaninhal 2007.

domingo, outubro 28, 2007

A FESTA DO FOGO: A NOITE MAGICA DE S. JOAO NO ROSMANINHAL


Rosmaninhal, S. João 2007.

"Ai, meu lindo S. João,
Meu ramo de rosmaninhos,
Dá saúde ao nosso alferes
E também aos seus padrinhos"

A chegada do solstício de verão (24 de Junho) foi desde tempos ancestrais celebrada de forma orgíaca. A noite mágica de 23 para 24 de junho é uma "noite aberta", pois a ordem das coisas pode ser perfeitamente alterada. Nesta noite tudo pode acontecer, "todas as plantas e todas as águas são sagradas". Devido à intensa comunicação cósmica gerada, os espiritos podem despretar e para os afunguentar queimam-se ervas aromáticas junto às casas.
Na aldeia do Rosmaninhal (Idanha-a-Nova) celebra-se um dos mais interessantes rituais em torno deste fogo cósmico. Ainda com o sol no limite das suaves linhas alaranjadas do horizonte começam a ouvir-se pela calçada das ruas o som das arcaicas ferraduras que convergem na direcção da casa do alferes. São cavalos, éguas, machos e burros que desfilam sob o olhar atento e alegre das gentes mais idosas, as mulheres gritam "Viva o S. João, viva os festeros". E, assim, em jeito de procissão, desfilam o alferes e os padrinhos à frente e os restantes cavaleiros atrás. Pelo caminho saltam as fogueiras aromáticas, desafiam o fogo com a bravura de antigos guerreiros e do alto das bestas esboçam dos rostos corados a expressão da verdadeira herança ancestral, dominar a besta e o fogo.

"Viva o S. João, viva os festeros"

(Agradeço a simpatia e a humildade do alfares Martinho e seus familiares, ajudantes e noctívagos "rosmaninheros" por esta magnifica festa cósmica)

quarta-feira, outubro 24, 2007

A estranha vida dos objectos usados




Interrogar-nos sobre a "vida social" ou "biografia cultural" das coisas, colocando a intersubjectividade entre humanos e o mundo material como um dos principais pilares para a compreensão deste planeta.
Porque os objectos são também acções, intenções, desejos, tristezas, angustias, interesses e propositos recíprocos da vida social humana.

quarta-feira, outubro 17, 2007