quarta-feira, novembro 25, 2009

ARQUITECTURAS TRADICIONAIS D' IDANHA

(idanha-a-nova, 2007)

fruto das profundas transformações em torno dos campos, estas estruturas vão assinalando um tempo que já é passado, um tempo que teima em ser completamente esquecido. é precisamente da memória desse passado recente que muitas conversas se despoletam nas praças das aldeias e vilas, recordam-se os campos e as suas sociabilidades. cartografam-se as emoções e os campos ( as casas, os gados, os trabalhos) voltam a ocupar essa centralidade perdida nos discursos dessa memória. é precisamente neste enquadramento e nesta perspectiva que esta estrutura habitacional de um antigo pastor, hoje abandonada, se mostra hoje aos olhos de quem passa: significa esse passado, é memória, mas também é presente, pois é olhada a partir do presente. e neste sentido a leitura remete para o abandono, para o esquecimento...um autêntico paradoxo: memória/esquecimento.

IDENTIDADES...

(cathoderaycharles)


a discussão será sempre em torno das representações identitárias. são centrais em todos os campos disciplinares das ciências sociais. o eu e o "outro", o que são? como se definem? o que está por detrás desta noção? fixemos o seguinte: "a identidade é tensão entre o eu e o outro, entre sujeito e objecto. é a resposta de adaptação ao mundo subjectivo, e, por isso, é um perpetuum, quer dizer, substancialmente incompleta. daí a sua plasticidade, o seu dinamismo, a sua contingência, a sua impureza." (Carlos Moreira "O enigma de Teseu, ou as identidades questionadas", in Peralta, Elsa e Anico, Marta (coord.), "Patrimónios e Identidades").

terça-feira, novembro 24, 2009

(essendemme)



quando eu morrer batam em latas,
rompam aos saltos e aos pinotes,
façam estalar no ar chicotes,
chamem palhaços e acrobatas!

que o meu caixão vá sobre um burro
ajaezado à andaluza...
a um morto nada se recusa,
eu quero por força ir de burro.

paris, 1916

mário de sá-carneiro

segunda-feira, novembro 23, 2009


(per temeritas)


"ervas do chão têm magias da terra para sarar fomes do corpo pelo pó"


(in valter hugo mãe, o remorso de baltazar serapião, p. 101)


um livro magistral...



Daemonia Nymphe - Nocturnal Hecate

domingo, novembro 22, 2009



"CARPIDEIRA (Várzea - SOAJO - concelho de Arcos de Valdevez) Uma tradição de chorar os mortos muito antiga, agora praticamente extinta. Gravado para o programa "POVO QUE CANTA" da RTP."

imaterialidades... "cantos da morte" (m. giacometti)

PATRIMÓNIOS PASTORIS II


depois de ler este admirável trabalho do antropólogo vasco teixeira, autor de um dos trabalhos mais completos sobre "as práticas alimentares do fundão", remeto para este mesmo seguimento antologico este texto verdadeiramente fundador e esclarecedor da realidade pastoril deste território anteriormente referido (tres povos-salgueiro (fundão-cova da beira). leia-se com todo o sentido de urgência...

PATRIMÓNIOS PASTORIS



saiu mais um número dos denominados cadernos pastoris do núcleo da pastoricia do salgueiro (fundão) (nº3). trata-se de uma pertinente antologia de textos sobre os diversos contextos pastoris da região.

sexta-feira, novembro 20, 2009


(yasly)



universo 7 biliões de anos
terra 5 biliões de anos
vida 2 biliões de anos
vertebrados 600 milhões de anos
répteis 300 milhões de anos
mamíferos 200 milhões de anos
antropóides 10 milhões de anos
hominídeos 4 milhões de anos
homo sapiens 100 000 a 50 000 anos
cidade. estado 10 000 anos
filosofia 2. 500 anos
ciencia do homem 0


in Edgar Morin, O paradigma perdido.

misterioso... mas encantador.


quarta-feira, novembro 18, 2009



admirável...divino...do grande feitiçeiro lars von trie's...




dead man, neil young...

antologicamente falando...para quem ainda não vislumbrou este "sagrado" filme.

(christopher haines)


"a ambiguidade do património imaterial é, verdadeiramente,
querer estar sempre numa politica de "salvamento" (...)"

jacques hainard (antropólogo, museu de neuchâtel). frase captada numa conferência sobre património imaterial (28 novembro de 2008) no museu nacional de etnologia em lisboa.

terça-feira, novembro 17, 2009



almeida garrett talvez seja o precursor nestas matérias do intangivel, pois fruto da sua actividade colectora, em meados do século XIX (1828), publica o primeiro "romanceiro tradicional". embora ainda embebido naquele perfume romântico caracterizador da época, longe ainda das recolhas e dos métodos cientificos.

segunda-feira, novembro 16, 2009

DA IMATERIALIDADE...

(flickr)


como a materialidade se impôs durante décadas e décadas. tudo era em função dessa materialidade. com as recentes discussões em torno da imaterialidade, do intangivel, os motivos centrais da problemática viram-se fundamentalmente para as pessoas, para as questões do sujeito e da sua palavra proferida, dos seus sons e saberes...

sexta-feira, novembro 13, 2009

PATRIMÓNIO IMATERIAL


face às últimas preocupações inerentes à salvaguarda, estudo e divulgação ligadas às questões da imaterialidade, acontece em idanha um importante debate/acontecimento em torno destas mesmas lógicas patrimoniais. um debate/conferencia a não perder...

quinta-feira, novembro 12, 2009

PATRIMÓNIO MINEIRO DO CONCELHO DE IDANHA-A-NOVA



(fotos: paisagens mineiras de segura)


em jeito de sintese:

ouro, estanho, volfrâmio, chumbo, cobre, etc., todos estes minerais foram durante décadas explorados em multiplas regiões do amplo concelho de idanha-a-nova. porém, é na região de segura, a par com s. miguel de acha e salvaterra do extremo, que se enquadram alguns destes singulares vestigios referentes a um periodo conotado com alguma componente industrial mineira. a partir destas paisagens e memórias mineiras formulo os ingredientes para o "cozinhado" de um interessante trabalho de investigação. nos aliçerces deste projecto está a câmara municipal de idanha-a-nova/centro cultural raiano que amplia assim as suas preocupações patrimoniais.

OS MESTRES...(RE)VISITAÇÕES


é com frequência que (re)visito estas leituras tão fecundas desses mestres "desbravadores" de árduos caminhos. jorge dias, etnólogo perspicaz, nesta obra pioneira e memorável, revela-nos rio de onor (bragança) como uma comunidade centrada num arcaico comunitarismo agro-pastoril. li-a num ápice durante a licenciatura, mais concretamente na cadeira de etnologia portuguesa, leccionada pela brilhante antropóloga paula godinho (fcsh-unl). mais tarde, visitei este admirável lugar e numa das suas ruas encontrei-me com um dos seus habitantes que de imediato me remeteu para esse tão recorrente "efeito do livro" designado por "efeito de rio de onor", tão profundamente retratado na obra de joaquim pais de brito: "retrato de aldeia com espelho. ensaio sobre rio de onor" (d. quixote).

bibliografia:

BRITO, Joaquim Pais de, (1996) Retrato de aldeia com espelho. Ensaio sobre Rio de Onor. Lisboa: D. Quixote.

DIAS, jorge (1953) Comunitarismo agro-pastoril. Lisboa: Editorial Presença.


quarta-feira, novembro 11, 2009

(antonio scricco)


leia-se:

"(...) o próprio facto de obrigar as mulheres a cobrirem-se para conservarem a sua dignidade afirma o que pretende negar: pressupõe automaticamente que a visão do corpo de uma mulher reduz este a um objecto de exploração sexual masculina, pelo que o modo de contrariar isso não é alterar a natureza/posição do olhar do homem, mas tapar o seu objecto (que, é claro, se torna assim ainda mais fascinante)."

slavoj zizek, lacrimae rerum, pp. 30-31.

terça-feira, novembro 10, 2009

(mark weaver's)


dirigir-se às coisas ou dirigir as coisas a si - é a mesma coisa

novalis

domingo, novembro 08, 2009

TEMPO D' AZEITONA: A PATRIMONIALIZAÇÂO





situa-se em proença a velha o projecto museológico relacionado com o azeite. a estrutura-lo está um extraordinário catálogo elaborado, tal como a integra do projecto de musealização, por benjamin pereira. trata-se de um trabalho que se revela central para o estudo desta temática, talvez seja mesmo o único a esta escala de projectos museológicos relacionados com antigos lagares. o projecto de proença-a-velha destaca-se a todos os niveis, pois, para além se situar num antigo complexo agricola, congrega a sintese das principais tipologias de extracção de azeite: lagar de varas, lagar mecânico, lagar hidraulico (este último expõe-se ao olhar como uma montra-vitrine). assume-se assim, em conjugação com as suas paisagens e as suas gentes, como um lugar de grande interesse patrimonial e educativo. visite-se com todo o sentido de urgência...

nota: a obra "Estórias do azeite", de António Manuel Monteiro, foi uma oferta que está ligada a um projecto de musealização e valorização desta mesma temática na região de trás-os-montes, nomeadamente o projecto "Rota do Azeite de De Trás-os-Montes).

TEMPO D' AZEITONA






no lagar...esse lugar de intensos aromas e memórias...

TEMPO D' AZEITONA






o labor d'azeitona...

sábado, novembro 07, 2009

TEMPO D' AZEITONA



talvez seja a única altura do ano em que os campos tornam a receber aquele frenesim de outrora. por todo o lado se vêem grupos de pessoas em torno das oliveiras. inúmeras entreajudas se geram: familias e amigos que se reúnem para colher o que lhes pertence, grupos de pessoas associadas que no final da respectica safra, recebem em azeite e azeitona, etc. trata-se, sem dúvida, de um dos trabalhos sazonais do calendário anual que mais destaque impõe ao território. por esta altura ouvem-se outras palavras e outras conversas: a azeitona da "talha"; o barranhão para colocar as azeitonas, etc. os lagares retomam a actividade e em torno deles despoleta-se todo um imaginário, convertendo-se assim num "lugar de memória", onde muitas histórias relacionadas com antigos mestres lagareiros surgem. nesta conformidade, impõe-se uma etnografia actual, centralizada no interior destes espaços e territórios, hoje transformados quase na integra mas que continuam a manter esse fértil dialogo com um passado recente. face a tantas mudanças sociais apetece questionar: o que é hoje a apanha da azeitona?

quinta-feira, novembro 05, 2009

(RE) PENSAR...

(Tejo Internacional O natural e o humano, Quercus, 1993)


houve tempos em que o projecto Parque Tejo Internacional tinha visibilidade, aparecia, existia ou tinha vontade em existir. publicavam-se algumas coisas, discutiam-se algumas coisas. hoje parece completamente diluido, não aparece, não se fala, não se publica, não existe ou pelo menos têm medo em existir...

"A CHAVE FICA NA PORTA"


talvez se tenha perdido este tão peculiar costume que caracterizou durante décadas as gentes das aldeias. hoje a suspeita globalizou-se. pelas televisões entram todos os receios. as portas fecham-se com fechaduras reforçadas. porém, prevalecem ainda parte das sociabilidades geradas pelos processos de vizinhança, assim como as suas linguagens. jaime lopes dias documenta a memória referente a estas hospitalidades beirãs assim:

nem mesmo às portas do céu
se bate com maior fé.
Deus pergunta. - quem é? entre!
o beirão: - Entre quem é.

(Etnografia da beira, Vol. X, p. 25)

terça-feira, novembro 03, 2009

MUNDOS ANIMAIS

(butdoesitfloat)




tanto ainda por fazer em torno do mundo dos animais. dessa fantástica relação com o mundo dos Homens. sempre tive esta curiosidade interior: porquê que o Homem têm necessidade em adquirir animais de estimação e de os subjugar aos seus inteiros dominios? veja-se a proliferação de serviços centrados únicamente no mundo animal: lojas de inúmeros apetrechos, tratamentos de pêlos, unhas, etc., vestuário próprio, serviços vetirinários diversos. fazem falta mais etnografias sobre estes universos.

segunda-feira, novembro 02, 2009

ARTE: FERRO FORJADO


na covilhã, um trabalho em ferro forjado espantoso. mas qual a razão para estas extraordinárias obras de arte não merecerem destaque algum da parte das instituições que "pensam" os turismos de uma cidade?

ARTE...



(fotos jornal El Pais)


outono barroco...

domingo, novembro 01, 2009

DIA DE TODOS OS SANTOS e FIEIS DEFUNTOS (FINADOS)







dia de Todos-os-Santos (dia 1) e Fiéis Defuntos ou Finados (dia 2). cemitério do rosmaninhal (idanha-a-nova).

este ritual marca o inicio do inverno. as comunidades viram-se para si próprias, incluindo os seus antepassados.