domingo, setembro 28, 2008

um conto...(RELEMBRADO)






Joaquim, o Grande




A luz parda de um dia qualquer de Outubro encobria o velho palheiro de granito num imenso oceano de monotonia. Lá dentro, dormia Joaquim, O Grande, conjuntamente com o colossal vazio de nenhuns pertences. Deste vazio, apenas se destacava a sua motorizada. Uma Saches Fuego gasta, cansada de tantas quedas e acrobacias. Porém, mantinha-se exemplar em tudo o que qualquer outra motorizada podia fazer de melhor. O Joaquim costumava dizer do alto dos seus 2 metros e 8 centímetros que esta tinha a particularidade de conhecer demasiado bem o seu dono, assim como as estradas e caminhos de pó por onde circulava. Sim, o Joaquim media 2 metros e 8 centímetros. Tinha uns braços finos e compridos, desajeitados e umas mãos que mais faziam lembrar duas enormes raízes desconexas e desarticuladas do corpo que as sustia. As suas pernas faziam lembrar as de uma cegonha. E desde o alto, oscilava um pequeno crânio desproporcional a todo este monumento, que era o seu desconexo corpo. Quando conduzia a sua motorizada, os joelhos atrapalhavam e roçavam no volante, que ele teimava em inclinar para trás. Era um autêntico alienígena que no imenso ruído se fazia transportar a toda a velocidade pelas estradas da Vila. Apenas pelo sôfrego ruído da motorizada cansada e gasta a subir as íngremes rampas da encosta da Vila, toda a gente já sabia que era o Joaquim, O Grande, na sua motorizada Saches Fuego bege-gasto. Depois, entrava na taberna e pedia uma mini sagres e dobrava aquele colossal tronco sob o balcão e ali ficava até já mal articular as palavras devido à dose excessiva de minis que tinha bebido. Abandonava a taberna imitando um velho tronco de uma árvore contorcida e arrancava na sua motorizada com a ajuda das compridas pernas, arrastando-as como duas muletas. E assim evitava alguma queda mais que prevista. Para além deste percurso quotidiano, o Joaquim era um homem triste e sozinho. Não tinha família e vivia num palheiro emprestado pela caridade de um dos seus cúmplices de bebedeiras. Sempre que ultrapassava a volumetria de uma simples bebedeira, silvava alfabetos estranhos e chorava até cair inanimado. O mundo não tinha lugar para aquele colossal corpo caído desarticulado na calçada húmida. Eram necessários pelo menos cinco homens para o levantar e o sentar decentemente num dos bancos corridos de madeira da taberna. Passados estes árduos trabalhos, já sentado, adormecia como uma criança abandonada. Todos na taberna ficavam ali a admirar o monstro que dormia como uma criança triste.
Nunca ninguém lhe ouviu uma única palavra de lamento, mesmo quando lhe aconteciam as maiores desgraças, ou seja, quedas da motorizada, falta de dinheiro, falta de roupa, etc. Respondia sempre ao mundo com um desmesurado sorriso proporcional ao seu corpo. Numa manhã de Junho aquele colossal corpo sucumbia dentro daquela triste casa, no meio de um velho colchão coberto com uma manta gasta. Morte natural escreveu o médico. Minutos antes de fechar os olhos para todo o sempre teve um daqueles fatídicos pressentimentos e decidiu de vez disparar… uma velha máquina fotográfica que lhe tinha dado há muitos anos um velho amigo emigrante. Mais tarde, quando o Lúcio decidiu recolher todos os destroços do que restava desta gigante vida, encontrou a velha máquina pousada num pequeno apoio ao lado da sua cama. À saída da loja de fotografia, à medida que caminhava ia folheando cada uma daquelas enigmáticas imagens. Destas, apenas guardou uma que lhe pareceu visualizar, embora de uma forma desfocada, o rosto sorridente do Joaquim. O resto deitou fora. Foi com este enigmático sorriso que o Joaquim se tinha despedido da vida e que agora, por iniciativa de todos os seus companheiros da taberna, pairava em cima da sua solitária sepultura, encaixilhado numa pequena moldura. Na taberna dizia-se que até na morte o Joaquim tinha sido Grande, pois não havia sorriso no cemitério como o do Joaquim, O Grande. 




quinta-feira, setembro 25, 2008

DIÁRIOS ALZHEIMER

(um dos muitos exercicios que efectuei com a minha mãe)


"...não me peçam para eu fazer as coisas, eu não sou capaz!!!"

domingo, setembro 21, 2008

21 SETEMBRO - DIA DO DOENTE DE ALZHEIMER


a minha mãe faleceu há cerca de um mês com esta terrivel doença, tinha apenas 63 anos, para que muitos possam ter o apoio que eu e a minha irmã não tivemos, façam-se sócios desta preciosa causa, associem-se aos doentes e familiares de alzheimer, pois...a união faz a força. para que hajam mais ajudas estatais, para que se constituam grupos de apoio psicologico aos familiares mais directos destes doentes, principalmente aqueles que vivem longe dos grandes centros urbanos, para que se instaurem instituições de acolhimento especializadas nestas doenças nas capitais de distrito e porque não nas aldeias, onde a calma e serenidade imperam etc..etc..etc... a todos os que já sofreram uma perda destas...animo...uma oração...


sábado, setembro 20, 2008

TRIBUTE TO R. WRIGHT




(Pink Floyd - us and them)


...mais uma perda para este mundo terreno...R. Wright, fundador dos miticos Pink Floyd, partiu deste mundo aos 65 anos...

O INTERIOR DE UMA CASA DE CAMPO

rosmaninhal, 2007.



o registo sempre atento destas arquitecturas vernáculas...uma casa de campo abandonada, com todos os sinais das inúmeras vivências que por ali passaram. admirável este barro que cobre os interiores, uma protecção ecologica ancestral. procurar este saber-fazer já é uma tarefa quase inglória..

sexta-feira, setembro 19, 2008

mais objectos...


interiores domésticos...

quinta-feira, setembro 18, 2008

OBJECTOS

(Ti Zé Pequeno, Pastor, Toulões. 2007)


o universo pastoril no interior da casa do pastor...

quarta-feira, setembro 17, 2008

ARQUITECTURAS DE TERRA

(jarandilla de la vera-espanha)

as fascinantes arquitecturas de terra (adobe)...



terça-feira, setembro 16, 2008

ARQUITECTURA TRADICIONAL

(casa em granito, idanha-a-nova, 2008)


extraordinária, esta casa em granito, erguida sob um robusto afloramento de granitos. aos mestres destas arquitecturas quase eternas...

domingo, setembro 14, 2008

MAIS RAIA...

(cegonhas-portugal)


paisagens canículas...

sábado, setembro 13, 2008

DA RAIA...


(estrada de Membrio-Espanha)

tamanha é a força da ideia preconcebida de fronteira, linha, limite, raia..etc..tudo se torna liminal, até mesmo a mais quotidiana das paisagens canículas. tenho interesse em aprofundar esta ideia de uma cartografia liminal. seria o mote de partida para um exercicio interessante: como se vive a ideia de fronteira sem fronteira nos dias de hoje? como se representa nos imaginários esta materialidade? e as cartografias como se lêem ou interpretam? 




quinta-feira, setembro 11, 2008

sábado, setembro 06, 2008

EM MEMÓRIA DO PEDRO ORNELAS



nestes últimos dias atravesso oceanos de dor...... e é neste contexto de perdas, que quero exprimir aqui as minhas mais profundas palavras para um amigo que partiu deste efémero mundo. com o pedro, também ele antropólogo, editor da Agenda Adufe da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, troquei muitas impressões, vivemos em intensidade o fascinio por este mundo rural...até já amigo, porque uma vida é apenas um momento e nada mais!

 ...que a tua alma descanse em paz...as minhas sentidas condolências aos seus familiares.

quinta-feira, setembro 04, 2008

DO ECOLÓGICO...

Soalheiras, 2007.

acho extraordinário esta capacidade inventiva, este forjar duma modernidade ou pós-modernidade que parece não ter qualquer efeito em alguns locais ermos desta construção doentia duma portugalidade europeia, vanguardista, etc, etc...de repente, na minha proximidade territorial, alguém me pergunta se já fotografei a sua obra prima, a sua arquitectura ecológica, sustentável, funcional...mal sabe, este habitante local, que aquilo que ele sempre fez e que lhe foi transmito pelas suas gerações ancestrais, é nos dias hoje, a solução mais "vendida" para um mundo mais sustentável...admiro, venero, ausculto com um estetoscópio este mundo perdido/encontrado...

segunda-feira, setembro 01, 2008

BALANÇO DA PARTILHA CULTURAL


do acontecimento cultural ocorrido no espaço museológico dedicado à cultura pastoril da aldeia do Salgueiro (Fundão), tirei as seguintes ilações:
- só mediante este tipo de iniciativas, onde a fértil e elevada partilha de conteúdos ocorre, é que estes espaços culturais podem fazer sentido. neste caso concreto, foi um exclente exemplo, o espaço cultural tornou-se num espaço de troca de vivências e imaginários. assimilou-se na integra enquanto espaço/zona de "contactos culturais".
bem hajam a todos...