sexta-feira, dezembro 05, 2008

O SABER-FAZER DO PÃO...


Rosmaninhal. Ti Mari'Zé, 2008.

não me canso de divulgar estes ancestrais saberes-fazer, em particular o do pão, porque sei que estão no limiar da sua existência. também sei que é o curso normal de uma sociedade, todos nós nos vamos transformando, adaptando ao longo dos tempos, assim se passa com estes basilares saberes. nesta aldeia, Rosmaninhal, terra outrora dourada de searas de trigo, de tanta tradição ligada ao pão, nos dias de hoje apenas esta senhora teima em cozer todos os dias duas fornadas de pão. cada dia que entro no espaço perfumado do seu forno, fico ali sentado, em silêncio e em admiração profunda, a contemplar o seu fustigado corpo, traduzindo alfabetos de trabalho, a oscilar de uma tarefa para outra com uma mestria milenar. depois, converso, ouço-a a soletrar sempre a mesma oração..trabalho..trabalho...trabalho. chega o Ti Zé, o marido, também ele fustigado pelo mesmo alfabeto, com a carroça cheia de lenha. senta-se e desabafa: isto está a acabar..! é verdade...e com isto perdem-se igualmente estas partilhas, estas ligações ao local do forno, estas histórias contadas com o aroma perfumado das charas e das giestas, esta aprendizagem e esta linguagem dos objectos a laborar, a dialogar com os nossos sentidos. 
...penso nos labores que estiveram durante décadas ligadas ao pão e que hoje já não existem, desde o tradicional carpinteiro que fazia as masseiras e os tabuleiros, ao ferreiro que forjava a raspa, a pá e a férrea...

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