inicio aqui um périplo pela reedição (finalmente) de parte da filmografia gravada pelo grande mestre m. giacometti (M.G.) conjuntamente com a equipa de colaboradores neste interessante projecto ("o povo que canta", RTP, 1970). opto assim por dedicar, intermitentemente, um olhar para cada um destes sensacionais volumes editados semanalmente pelo jornal público (coord. paulo lima). no presente volume, para além das respectivas contribuições dos principais "organizadores" da obra, destaco a entrevista editada por adelino gomes a M.G. uns meses antes deste morrer, onde M. G. responde de forma esclarecedora e lúcida a essa tendência genaralizada e redutora de se esboçarem mágicas conjugações a partir de raciocinios pouco ou nada fundamentados e que curiosamente teimam em repetir-se nos dias de hoje, nos mais diversos campos disciplinares. sobre este caso concreto, escreve-se que havia um padre (Alcobia) que tinha formulado uma tese onde argumentava que o canto alentejano ia buscar as suas principais raízes ao canto gregoriano. sobre o qual contrapôs M. G colocando sobre a mesa as multiplas e quase infinitas possibilidades que é necessário contar:
"há a situação geográfica peculiar do país, a miscigenação com árabes e judeus, os Descobrimentos e a fixação de escravos africanos, as relações com várias etnias reunidas sob a coroa de Castela, a sedentarização de tribos ciganas, os movimentos migratórios e, por fim, a intervenção criadora do povo" (p. 32)
assim, fica claro que o discipulo que tenha presente sempre este quadro de análise e prossiga estas mesmas linhas ou directrizes de trabalho e coloque de lado todas as hipoteses redutoras das teses essencialistas que tendem apenas a fragilizar duplamente o raciocinio, encontrará, com toda a certeza, a senda do verdadeiro conhecimento...