esta experiência junto de um grupo a pisar uvas no respectivo pio e num espaço de uma casa rural, todo ele configurado para um género de economia familiar, para mim, é absolutamente luminosa em termos criativos e sensoriais. penso sempre nessas imprecisões textuais e especulativas, de quem a partir do seu espaço de conforto lavra eloquentes teorias, quase mecânicas, racionalistas, redutoras, rasuradas desta componente experêncial e por conseguinte de todas as emoções que um texto, uma história contada, uma apresentação pode suster e transmitir. é uma experiência participativa deste género (ou parecida) que nos faz repensar as escalas, as redes e as classificações das economias familiares no século XXI, num Portugal do interior. também essa notável persistência, esse teimar em fazer vinho de forma tradicional, têm muito dessa aura de resistência, face à imposição deste mundo da série. demonstram que ainda é possível retomar esses caminhos com significados locais, com linguagens especificas e torneadas para fazer funcionar as "coisas" à sua maneira. aportando conhecimentos ali e aqui (dentro), mas também bebendo conhecimentos dali e de acolá (fora). escrevo ainda com esses aromas, sento-me à mesa e fico a saborear aquelas terras e ouço as vozes, os sons líquidos desse pio. torno a ouvir "este é o nosso vinho"...