escolhi três momentos relacionados com a ida aos madeiros que ocorreu durante este fim-de-semana em Monfortinho. ambos acontecem no mesmo dia (corte das lenhas e peditório na aldeia), reservando-se o dia de entrada na aldeia, mais efusivo para a restante comunidade, para o dia seguinte ao final da manhã. como na maioria do interior de Portugal, estes rituais relacionados com as fogueiras de inverno (Natal), estão em acelerada transformação (como seria de esperar, afastando aqui qualquer intenção ou posição "tradicionalista" ou "progressista") em muitos casos são já inteiramente organizados pelas instituições locais (juntas de freguesia, municípios, etc), institucionalizando-se desta forma as práticas festivas e suas ocorrências mais particulares, que nos remetiam para um grupo especifico (rapazes solteiros, festeiros, etc), com as suas sociabilidades concretas e suas tensões. assim, como em todas as dimensões festivas, tempo e espaço estruturam-se como eixos centrais, polos onde a comunidade se revela. o caso de Monfortinho penso que é ainda de uma relevância notável, pois continuam a participar os jovens solteiros (já com alguns casados na ajuda) que teimam em afirmar este rito de passagem, outrora significativamente ligado à passagem para a idade adulta e claro, com uma expressão colectiva mais operativa. o peditório remete-nos para essa extraordinária circulação de géneros, que por toda a Beira Baixa se difundia e que está intimamente ligada ao o culto dos mortos. o próprio culto das almas (encomendação das almas) tinha na sua base estas formas arcaicas de peditórios.