sábado, junho 07, 2008

MEMÓRIAS DO PÃO

Ti Mari'Zé, Rosmaninhal, 2008.



na aldeia do Rosmaninhal (Idanha-a-Nova) ainda persiste este ancestral modo de fazer o pão. embora já se encontre numa forma residual, com apenas duas padeiras no activo, ainda continua contra todas as incoveniências deste mundo cego "ASAE-asno" que teima em destruir de uma forma radical um conjunto de práticas milenares em prol de uma fobia higienizante (mas deixemos para outra altura esta tão prazenteira discussão). o pão do Rosmaninhal é sem dúvida um eco dentro e fora do concelho. toda a gente já ouviu falar, já provou e já se encantou com o modo tão particular de fazer o pão desta encantadora aldeia. também guardo memórias da minha infância deste saber-fazer, do aroma intenso a charas misturado com o sabor do mel numa fatia ainda quente, era tudo o que desejava receber da minha querida avó que com afinco e dedicação extrema, quase a roçar a perfeição, fazia sair do forno estes autênticos manjares perfumados. depois, franzina, com um tabuleiro enorme repleto de pão ia perfumando as ruas até chegar a casa. pelo caminho, os guardas-fiscais já tinham sofrido esse mágico encantamento, perseguindo-a até casa para ai lhe comprarem o precioso manjar. devido à sua proximidade com a fronteira espanhola, aqui também era costume fazer-se um pão tipico dos "nuetros hermanos", o denominado "pão-de-cama". a minha avó era exímia nesta especificidade tão cobiçada. hoje, pouco resta destes universos encantatórios, o pão já não percorre a rua da mesma forma, já não cheira a charas, agora dizem que o pão já não é o pão de antigamente. porém, na aldeia do Rosmaninhal, a Ti Mari'Zé e a Ti Cristina, ainda continuam a teimar em perfumar a aldeia com as memórias do pão.

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