já aqui manifestei o meu fascinio pelo uso generalizado destes "vigias" permanentes das culturas, assim como das tecnologias que os complementam e os substituiram. é na primavera que se revitaliza o seu uso, justificado pelo desabrochar das novas culturas. contudo, o uso do espantalho transporta consigo mais do que a simples protecção das aves, isto porque de fora ficam todas as pragas nocivas de insectos, vermes, etc., assim como o próprio homem como amigo do alheio. por outro lado, o espantalho é também fruto da imaginação de quem o elabora, projectando nele, esse "outro" que habita a paisagem. muitos autores viram nele o prolongamento de diversas entidades protectoras e sacralizadoras. o espantalho evoca essa alteridade, participa nesse discurso sobre o outro, pois ele, embora feito com base nos principios da nossa semelhança, ele é esse "outro" que vai intervir e afastar os males. porém, ele é também o "outro" que nos faz rir, esse palhaço feito de palha que pauta tantos rituais do calendário festivo anual. afinal, quem não se lembra da celebre representação pictórica do espantalho acompanhado dos respectivos pássaros como elementos da sua companhia permanente, daí, o que espanta o espantalho? o antropólogo J. Pais de Brito diz-nos que "talvez a generalidade dos medos e um dos mais frequentes modos de o exorcizar: o riso".