grupo de encomendação das almas de S. M. de Acha. 2014
entramos no período da Quaresma, tempo que marca o final do inverno, povoado de diversas intensidades ritualísticas ligadas ao ciclo do calendário cerimonial (organizado em torno da evocação da Paixão e Morte de Cristo). é durante as sexta-feiras deste período que no concelho de Idanha-a-Nova, nos mais diversos lugares, se ouvem os cantares das almas nas frias noites beirãs. trata-se de formas tradicionais cantadas, de carácter colectivo, que evocam a necessidade e a lembrança da oração pelas almas do purgatório, assim como a evocação da condição mortal. constituindo um traço recorrente da geografia cultural portuguesa, hoje com novas leituras e roupagens, afirmam-se nessa dimensão social, contemplativa e performativa do calendário ritual, como vozes que clamam a necessidade da espera, da preparação, da provação (Quaresma). sem estas atenções contemplativas que o calendário assinala em cada lugar (é importante que se perceba com profundidade esta dimensão dos lugares e dos seus contextos vivenciais, para se evitar cair nas versões da cópia e da reprodução dos modelos estandardizados) ficamos todos mais vazios. Tal como o filosofo Byung-Chul Han nos alerta: "a vida cultural da Humanidade (...) só é possível e só se desenvolve quando existe uma atenção profunda e contemplativa".
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