Caminhar, peregrinar...
Na mítica Idade Média, repleta de ambientes fervorosamente religiosos, viajava-se em função das motivações religiosas. Pois muitas das peregrinações efectuadas, eram pura e simplesmente penitências aplicadas a pecadores, que iriam pagar os seus erros em longas e árduas peregrinações, só regressando dessa extenuante viagem após concluida a peregrinação. Viajar traduzia assim um rito de penitência, longo e severo. Deste periodo até meados do século XIV, as peregrinações intensificam-se, principalmente ao nivel do sentido. Pois passaram a estar ligadas à procura da cura espiritual ou fisica, por outro lado, começaram a surgir individuos milagreiros.
Inerente a este processo, começaram a surgir inumeros viajantes, comerciantes e aventureiros, interligados por uma mescla de devoção, cultura e prazer. Já no século XV, organizavam-se excursões que partiam de Veneza para a Terra Santa e a partir do século XVII o "Grand Tour" estabeleceu-se para os filhos da aristocracia. Com o Renascimento (revalorização do humanismo) e com as diversas colonizações, a viajem tornou-se numa busca do conhecimento, com o olhar, "as eyewitness observation" (Urry, 1990). No século XVIII, destacaram-se os numerosos balneários com finalidade medicinal, assim como, o turismo para as zonas litorais, sob a justificação de que os banhos no mar possuiam igualmente efeitos curativos.
Contudo, paralelamente a todo este desenvolvimento, assistiu-se a um conjunto de mudanças cruciais, principalmente nas relações do trabalho. Na Europa, durante os séculos XVIII e XIX, o trabalho passou a ser uma actividade mais organizada politica e socialmente, permitindo racionalizar os espaços e momentos de lazer. Assim, com a melhoria dos padrões de vida dos paises industrializados, com a melhoria dos transportes e a diminuição do tempo de trabalho, as viagens de lazer aumentaram vertiginosamente, dando inicio à era do turismo massificado.
No século XX, após o advento da 2ª Guerra Mundial, quando o capitalismo se revigorou e atingiu nos paises europeus altos niveis de vida, o periodo de férias e do trabalho tornou-se numa conquista de cidadania. Porém, passou também a ser reconhecido por todos, que viajar ou gozar férias revigorava, trazia novas forças, daí que, de uma forma secularizada, o turismo continue a manter um principio original: a busca, a renovação, o refazer de uma ordem prejudicada pelo stress da rotina; conotando-se como uma especie simbólica de cura, tal como as peregrinações. Assim sendo, o turismo tem componentes da peregrinação e vice-versa.
Continua..."se o pregrino é meio turista, então o turista é meio peregrino" (Turner, 1974).