quinta-feira, novembro 30, 2006

arquitectura tradicional: casa tradicional da aldeia do Rosmaninhal





A "camareta"

A casa tradicional da aldeia do Rosmaninhal varia entre terrea, ou seja, baixa, e a casa dita alta (de um ou dois andares). O exemplar fotografado é uma casa de andar.
1. No piso inferior funciona o "sotão" e os quartos e no andar a cozinha e mais um quarto. O "sotão" é o lugar especial da casa, aqui se recebem as visitas. Este lugar está repleto de simbologia, aqui se dispõem os santos protectores da casa, geralmente a/o padroeiro da aldeia juntamente com as molduras da familia, assim como as cantareiras cheias de loiça de barro e zinco colorida. Os quartos estão bem tapados com cortinas com padrões alegres. A grande maioria das casas têm armarios encaixados na parede e cantareiras.
2. Subindo a escadaria de madeira entramos no dominio da cozinha, lugar por excelência de todas as sociabilidades. O lugar do lume e o fumeiro por cima pautam os tempos dentro da casa. É na cozinha que a familia se congrega em torno do fogo e se estruturam os lugares consoante as idades. Por cima da escadaria, ainda havia lugar para mais uma cama, chamam-lhe o lugar da "camareta". Diz a Ti Barata do altos dos seus 80 anos: "a gente antigamente era uma meséria, dormiamos aos 7 e 8 dentro duma casa, os rapazes iam a dormir para os palheros e as raparigas dormiam em casa. Tinhamos sempre nas casas uma camareta por cima das escadias, era para dormir um filho mais pequeno".

A riqueza do universo das casas rurais têm sido sistemáticamente desvalorizada pela grande maioria dos estudos académicos e dos diversos projectos de cariz patrimonial. Conhecemos pouco ou muito pouco destes universos, fazem falta estudos pormenorizados dos interiores das casas rurais, para que possamos compreender em profundidade o espaço da intimidade familiar.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Arquitectura tradicional de Proença-a-Velha




Encontra-se na aldeia de Proença-a-Velha este conjunto de casas tradicionais, cujas paredes do andar são elaboradas com base na taipa de ripado e barro. Este tipo de casas com esta tecnica de construção associada é caracteristico das áreas serranas (Paul, Covilhã, etc).

"O prometido e devido"

Depois do Joaquim me ter solicitado para enunciar 5 manias e continuar esta onda "manienta", eis o resultado de tal psicanalise:

1. (talvez) demasiado apaixonado por tudo, ou seja, demasiado sonhador
2. melancólico por natureza
3. teimoso, sim demasiado teimoso, ou seja, teimoso que nem um burro
4. solitário
5. nunca saio de casa sem papel e caneta

Peço desculpa, mas como não tenho a quem mandar e continuar esta "onda manienta", contribuo apenas para uma sessão de psicanalise colectiva...

terça-feira, novembro 14, 2006




estás sentado na berma da estrada, os carros passam a uma velocidade moderada. observas as movimentações, as viagens, os aromas que deixam as partidas e as chegadas. escreves. tens aquelas sandálias velhas, as mesmas de tantas peregrinações. para onde vais - perguntam-te. não sabes. esperas. esperas que a angustia te faça levantar e prosseguir a eterna direcção do nada. sempre tiveste o silêncio do teu lado, aprendes-te artes magicas e sabes decifrar o alfabeto das árvores. ainda assim, caminhas com o coração dorido nos dias mais claros. tens essas calças rotas, essa T-shirt suja. utilizas palavras limpas e agradeces sempre. um dia ouviste o poeta da Beira Baixa dizer que as coisas não se agradecem, dão-se com a parte das mãos claras, besuntadas com a doçura dos olhos. guardas-te essas palavras nos teus olhos e percebes-te, de imediato, como se fogo se tratasse, que caminhavas sem direcção com a direcção certa.

sábado, novembro 11, 2006

Toponimos


Rua do Lambique, Cegonhas.

A importância dos nomes dos lugares, da sua origem e transformações ao longo da história, torna-se capital para a compreensão da evolução histórica e cultural do espaço vivido. No presente exemplo, uma tecnologia tradicional para fabrico de aguardente, aparece na sua forma escrita, tal como se pronuncia na região.

terça-feira, novembro 07, 2006

A azeitona



Para além do precioso nectar, o azeite, também a azeitona integra a rica dieta mediterrânica. É rara a mesa de uma casa rural que não tenha presente uma "malguinha" de azeitonas. Nas merendas dos trabalhadores do campo, as azeitonas combinam com o queijo, o chouriço e a codea de pão. Retalham-se nas horas vagas e nos longos serões do Inverno.

"Estória deste balde de azeitonas retalhadas":
"Estas azeitonas são para dar ao proprietário, a gente têm o terreno arrendado e damos-lhe um ou dois baldes de azeitona retalhada" (Ti Mari Zé, Rosmaninhal).

Por todo o concelho, este tipo de dádivas integram os antigos usos relativos aos contratos de arrendamento.

sábado, novembro 04, 2006

Dia de Todos os Santos: o Santoro


Santóro, Rosmaninhal.

Os Santos enquadra-se nas principais épocas destinadas aos peditórios cerimoniais, conjuntamente com as Janeiras, Reis, Carnaval e Dia das Maias. Enquanto que as épocas de ofertas ocorrem no Natal e na Páscoa. Por toda a Beira Baixa havia - convém referir que nos dias de hoje esta tradição está práticamente inoperante - o costume de se fazer com a massa de pão uma especie de bicas besuntadas com azeite, em forma de ferradura, denominadas pelos locais de Santóro, que as madrinhas ofereciam aos afilhados juntamente com dinheiro e frutos secos. Por esta altura era prática comum a competição em torno do maior santóro. Ainda se ouve entre a vizinhança da aldeia a expressão que ficou ligada a este dia: "Tão, já foste a terer o santóro?. O significado destas esmolas encontra-se na natureza especial das comemorações, são pois os dias destinados aos defuntos e acredita-se que nestas datas eles andam pelo mundo. Por todo o lado se fazem ou faziam, bolos destinadso às almas, peditórios e esmolas desses bolos, mesas postas para defuntos, oferendas alimentares, a par com luminárias, sobre as sepulturas.

Este ano ainda consegui fotografar este pequeno exemplar numa das antigas padeiras do Rosmaninhal, que se aprontou a dizer-me: "Já ninguém faz santóros, eu ainda fiz este pequeno só para dizer que fiz. Antigamente ia tudo a terer o santóro. Quando estavamos no campo os patrões neste dia também davam o santóro aos homens, todos traziam um pão grande que os patrões davam. Aqui no povo eram os afilhados quem andava a pedir".

quinta-feira, novembro 02, 2006



perdeste as asas nesta fragilidade limpida
agora apenas tens os olhos
e ainda assim preferes entrega-los aos sonhos