Não sei se isto é uma homenagem, apenas sei que estou a recordar um amigo que nunca conheci, a não ser através da musica. Comecei muito cedo a ouvir Zeca, pois tive a sorte de ter um pai, UM GRANDE PAI, com todas as letras possiveis e imaginárias, que tocava e cantava encantadoramente. Nos longos serões de inverno, era ele quem aquecia os nossos corações com as musicas do Amigo Zeca: "Os vampiros", "Chamava-se Catarina", "Venham mais cinco" e terminava com uma das minhas preferidas, "O que faz falta". Foi assim, deste modo carinhoso e sentido que me foi apresentado o Amigo Zeca, daí que hoje achei por bem escrever-lhe uma carta:
Amigo Zeca,
Não sou daqueles que teceu a sua consciência politico-social a ouvir-te cantar esses cantos de resistência e de denúncia, sou talvez, conjuntamente com a minha geração, o fruto do que veio a seguir à tua despedida. Houve mesmo quem lhe chamasse "geração rasca", mas isto é outra conversa, o que me interessa aqui dizer-te, é que foste e és um dos maiores musicos portugueses. Isto porque forjas-te admirávelmente uma obra única em todos os sentidos, plena da mais livre das palavras, Liberdade. Na tua obra ecoam tradição e modernidade, estas eram as tuas notas preferidas, daqui emanava o teu poder criativo. Com frequência ainda paira o espanto ao ouvirmos as tuas canções novas que soam a milenares convivios, misturando-se mesmo com a toda uma memória colectiva ancestral. E é precisamente desta alquimia que renasce sempre, mas sempre mesmo, essa tua força revivificadora, a chamada alma nova. Muitos têm se esquecido desta essência e remetido a tua obra para um espaço onde imperam outras forças, chamemos-lhes vagas, ocas de sentido, onde reinam circulos mágicos à volta da fogueira. Amigo Zeca, a obra que crias-te é muito mais do que isso, é a tradução pelo espirito da luta por uma grande palavra, LIBERDADE.
Amigo Zeca, "o que faz falta é animar a malta".
5 comentários:
Um voto de saudade para o Zeca, mas também para o Chambino, teu pai que eu conhecia muito bem. Ambos já conhecem toda a metafísica
Bem hajas Joaquim.
Gostei da visita e ... das palavras !
Gostei deste sítio ... c/o Zeca logo a abrir.
Vou passando ...
andarilhando
Abraços
Zeca é intemporal, por isso Zeca Afonso, SEMPRE, pelo homem, pelo cidadão, pelo político, pelo músico, pelo cantor, pelo baladeiro, pelo compositor, pelo poeta..., um símbolo de toda uma geração. Bom fim-de-semana.
Caro Eddy
É bem verdade que o Zeca quando fazia vibrar as codas (as da vilola e as da voz) a Liberdade soltava-se.
Abraço
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