Uma das poucas casas que ainda persiste.
Uma das ruas do lugar.
Ti Patrocinia.
Nos limites de Monsanto, já situado nas faldas da serra, fica localizado um dos povoamentos agro-pastoris mais remotos desta área do concelho. O lugar denomina-se Pomar, alguns chamam-lhe mesmo aldeia de Pomar. Segundo os documentos históricos, em 1944 este lugar tinha 74 habitantes, possuindo igreja e cemitério próprio. Hoje é um lugar vazio, demasiado vazio. Restam apenas três habitantes, a Ti Patrocinia é a habitante mais antiga, têm 89 anos, nasceu neste local onde ainda persiste em não o abandonar. À minha chegada, fui encontrá-la de foice na mão, a cortar erva. Depois de me dizer que os outros dois habitantes "andavam a trabalhar", convidei-a a sentar-se um bocadinho ao sol e pedi-lhe que me falasse deste remoto lugar, ao que me respondeu com um enorme sorriso:
"Isto aqui, intigamente havia cá 24 casais, ou mai, hoje só cá estou eu e o Zé António mai a mulher. O mê pai era do Salvador, chamava-se Francisco Marmelero e a minha mãe era daqui, chamava-se Maria Antónia. Eramos cinco irmãs, só cá estou eu e uma irmã que está ali em Monsanto. Isto tinha cemitério e igreja.
(Fala das dádivas que um homem uma vez lhe trouxe e da ajuda da vizinha)
"Isto é uma dádiva florida. A minha vizinha dá-me tudo o que me faz falta. ela tem horta e tem tudo. O marido anda no corte (egalipos). Tem cinco cabras, dá para fazer o queijo."
(Fala das visitas que vai recebendo)
"Esteve aqui um estudante a terer fotografias e estava a carujer (chover) e ele não sabia o que queria dizer, não sabia nomear. Atão a gente que anda a estudar não sabe ver o astro?" (refere-se à previsão do tempo)
(Depois de algumas horas a viajar pelas infinitas histórias da Ti Patrocinia, despediu-se com o mesmo sorriso com que nos recebeu)
BEM HAJAS, TI PATROCINIA
3 comentários:
Que bela parte do nosso pais a morrer aos bocadinhos.
Para os meus lados tambem existem lugares como esse, eu pessoalmente ainda conheci uma aldeia com 8 familias, que presentemente se encontra completamente em ruinas, isto em quarenta e poucos anos!
Um abraco amigo d'Algodres.
O ti, a ti como se instituiu este grau de parentesco e/ou vizinhança, nunca soube de onde veio, sempre me intrigou , só um antropólogo me explicará . Penso bem ?
E as portas?
Explique-me um bocadinho ?
jrm
Caro amigo, antes de mais, bem hajas pela visita e pelas interessantes questões que me coloca. Relativamente à linguagem simbólica das portas remete-o para um interessante blog onde existe uma excelente abordagem ao assunto:
- aldrabas.blogspot.com
Quanto à utilização desta expressão "Ti", para já, apenas lhe posso adiantar que na região da Beira Alta e Norte de Portugal se utiliza com frequência a expressão "Tio". Fica para breve uma explicação mais atenta.
Bem hajas amigo e volte sempre
Enviar um comentário