domingo, outubro 19, 2008

TERRAS DE PÃO, PÃO DAS TERRAS




(eiras, locais onde se debulham os cereais (trigo, centeio), Rosmaninhal, 2008)


é dificil falar das paisagens raianas e das suas gentes sem mencionar os cereais. tudo se estruturou em seu redor, inclusivé a própria configuração das aldeias. aliás, toda a história da humanidade se configurou em torno da domésticação dos cereais. da sua transformação resultou o pão, esse alimento capital para a grande maioria das sociedades humanas. no concelho de idanha-a-nova cultivou-se na maioria das terras trigo e centeio, deste periodo agrário resultaram as configurações das vastas paisagens pontuadas aqui e ali com casarios designados de arraiais, alguns confudem-se mesmo com as próprias aldeias, tal era o povoamento e a dimensão estrutural da vida nos campos em torno dos cereais e dos gados. basta simplesmente olhar para a paisagem para vislumbrar os resultados desta mágica complementaridade entre as culturas cerealíferas e a criação de gados. a paisagem revela-se assim como um precioso livro aberto, nela se inscrevem uma infinidade de marcas desta fantástica e árdua História. a confirmá-lo estão por exemplo estes remotos recintos circulares, lageados ou simplesmente em terra batida, designados de eiras, onde se debulhavam o trigo e o centeio. depois de secas as espigas, a debulha do trigo efectuava-se com um trilho, puxado por um animal ou uma parelha, também era usual a debulha a pé de gado (alentejo e ribatejo). por outro lado, as malhas do centeio eram efectuadas a braçal, para preservar o colmo. os malhadores utilizavam o magual.
antes do aparecimento dos tractores, ainda foi uso generalizado as debulhas mecânicas do trigo, das quais ainda tenho uma leve recordação na aldeia do rosmaninhal. muito haveria por dizer destas inovações e da memória das suas práticas, assim como dos moinhos e das inúmeras fábricas de moagem, ou do saber-fazer das mulheres que amassavam, coziam e colocavam o pão na mesa das numerosas familias, mesmo em tempos de falta, havia sempre um cantinho de seara (pão). a recolha destas memórias tornam-se assim estruturais para percebermos melhor a história economica e social das paisagens da raia, sem elas tudo fica incompleto, insonso, quase vazio...

1 comentário:

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Soberba a imagem da flor do pão , a papoila, a frágil e duradoura flor !
abraço
JRMarto