domingo, maio 31, 2009

INTERPRETAÇÃO DA PAISAGEM

(parque cultural de maestrazgno-teruel/espanha)


penso que nos faz falta isto, interpretar as nossas paisagens agricolas, mais propriamente os arraiais agricolas enquanto simbolos identitários e paisagisticos de uma cultura ligada aos campos. 

GEOPARK DE AROUCA


com a entrada do geopark de arouca para a rede europeia de geoparks, aumentaram as iniciativas culturais em torno das paisagens geológicas e humanas. enquadrado na celebração da semana europeia de geoparks, este projecto lança um interessante seminário em torno das paisagens e do homem. remoto diálogo este, entre o homem e a terra...

sábado, maio 30, 2009

VIDAS...




encontrei este pastor na região de montemor. ia em viagem e parei neste lugar ao ver um enorme rebanho. disse-me que se chamava antónio. depois pedi-lhe se podia tirar-lhe uma foto e se não se importava se um dia se visse na internet. sorriu e disse: "quero lá saber, é da maneira que sou famoso!". muito bem senhor antónio aqui está o prometido. e que o alentejo seja sempre essa terra de luz e de canto...e de bons pastores.

sexta-feira, maio 29, 2009

FEIRA DO GADO. ROSMANINHAL


celebra-se no dia 30 de maio no rosmaninhal a histórica feira de gado. trata-se (ou tratava-se) de um acontecimento com contornos extraordinários. para além dos gados (ovinos, caprinos, muares, cavalares, porcinos, etc) que pautavam o dito acontecimento, a aldeia celebrava também com este evento , a partilha de várias experiências de outros "mundos" relacionados com a prática ganadeira. imperava a astúcia do negócio.


segunda-feira, maio 25, 2009

AS CICRATIZES DOS OBJECTOS



pá de limpar os cereais ao vento, concelho de Idanha-a-Nova, colecção CCR.

fascina-me este diálogo com os objectos. eles têm sempre algo para nos dizer, mesmo aqueles que cairam no mais completo dos esquecimentos. todos interessam para conhecer melhor uma sociedade. tal como ernesto veiga de oliveira no seu trabalho "apontamentos sobre museologia" alertava:

"armas, esculturas, etc - exercem sempre grande fascinação sobre o colector, e beneficiam muitas vezes de uma especial preferência; e o mesmo sucede com todos os objectos atraentes, ricos ou raros, desprezando-se os vulgares, simples e de uso diário. esses critérios são evidentemente errados, e há que recusar quaiquer preconceitos dessa natureza. todos os objectos de uma cultura têm interesse para o conhecimento dessa cultura" (1971, p. 47).

o que é necessário e urgente é "escutar" os objectos, ouvir o que eles têm para nos dizer. todos os objectos congregam biografias: onde foram comprados? quanto tempo serviram? foram concertados, trocados, vendidos, deitados para o lixo, recuperados, reciclados? em torno deles constitui-se um amplo e fecundo campo de investigação. veja-se por exemplo o caso destes "objectos com cicratizes" e os seus universos de fascínio e de interesse: quem os consertou, quando, como, porquê? eles remetem para uma sociedade rural intimamente dependente destes (re)aproveitamentos, longe destes tempos actuais, prolixos num consumo desenfreado. estes objectos remetem-nos para esses mestres dos arranjos e do improviso. esses "feitiçeiros" abonados de um dom: tornar o velho em novo. eles também problematizam o seu lugar no museu. contrariando todas as lógicas dos objectos de valor. 

regressarei em breve a esta fascinante dimensão, pois representa para mim um dos mais cativantes universos de estudo.


notas bibliográficas

- veiga de oliveira, ernesto (1971) Apontamentos sobre museologia. museus etnológicos: lições dadas no museu de etnologia do ultramar. lisboa: junta de investigações do ultramar, centro de estudos de antropologia cultural.

SEMANA EUROPEIA DOS GEOPARQUES:FESTIVAL EUROPEU DA TERRA



geoparque naturtejo. celebração do planeta terra 2009...consulte o programa aqui

LUARES DA TELÚRICA BEIRA BAIXA

(eddy, 2009)


uma destas noites dionisíacas...com uma lua cheia que mais parecia um sol nocturno.
é por isto que amo a beira baixa. pela força cósmica que exerce sobre todos os elementos.
a telúrica beira baixa e os seus luares persas...

domingo, maio 24, 2009

LEITURAS...

começei a ler o último trabalho de saramago. li 20 páginas e numa primeira impressão penso que será livro para ser devorado numas duas semanas. depois do merecido nobel nunca mais li este autor. não sei porquê! talvez seja o meu inconsciente averso a prémios literários...

 "O fidalgo beijou a mão ao rei, que lhe disse, com a solenidade de um oráculo, estas sibilinas palavras.."

sábado, maio 23, 2009

UTOPIAS...

(eddy, 2008)


seria interessante pensar estas lógicas relacionadas com a sustentabilidade do meio ambiente
que estruturam o festival boom festival a uma escala mais alargada, como por exemplo à escala da vila de idanha-a-nova. como é que se pensa a sustentabilidade e o ecológico numa vila petroleo-dependente. e se os plásticos fossem reciclados por um grupo local e (re)utilizados em diversas construções públicas? talvez assim a comunidade veria in situ o retorno do seu esforço. utopia ou realidade?

quinta-feira, maio 21, 2009

INCRIVEL...SÓ VENDO!! (ANTES)


recebi do proprietário desta herdade (miguel aragão) em proença-a-velha, este extravagante roubo, uma escadaria em granito completa!!! ver para crer!!!

INCRIVEL...SÓ VENDO!! (DEPOIS)




resultado da "larapiagem" ... uma escadaria completa!!!

CULTURA PASTORIL




interessante abordagem às arquitecturas pastoris...

quarta-feira, maio 20, 2009

ARTE CRISTÃ (BULGÁRIA/SLIVEN)

exposition christian art - sliven (bulgária)
(formato cd rom)

VIAGEM À BULGÁRIA (SLIVEN)


desloquei-me conjuntamente com o grupo de musica tradicional da zebreira (idanha) "saca sons" no passado domingo à bulgária, mais propriamente à cidade de sliven. a razão desta deslocação prendeu-se com um projecto denominado "oralidades" onde se destacam interessantíssimos projectos de cooperação e intercâmbio cultural entre os países participantes: portugal - municipio de idanha-a-nova, évora e mértola; bulgária - sliven; malta - birgu; itália - ravenna; espanha - ourense. este projecto recai essencialmente sobre duas componentes das oralidades: a musica da europa do sul e do mediterrâneo (popular, antiga e da renascença) e a tradição oral (histórias de vida, contos populares, cancioneiros e romanceiros).
neste sentido, destas extraordinárias parcerias decorrem um conjunto de actividades desenvolvidas ao longo de três anos em torno de todas as cidades da parceria e que assenta sobretudo em circuitos, encontros e festivais das musicas do sul; circuitos e festivais de música antiga e da renascença; rede de cidades da tradição oral, com contadores de contos populares, grupos de teatro e de marionetas; encontros de especialistas e investigadores no âmbito do estudo da tradição oral. toda esta dinâmica em torno do património intangivel culminará com a criação de um centro de recursos da tradição oral.
sobre esta deslocação a sliven (bulgária) um "pequeno-grande" incidente, face a um estonteante golpe de magia negra ou seja roubo profissional, a minha mochila que continha documentos pessoais, telemóvel, dinheiro e principalmente a máquina fotográfica que me tinha custado os olhos da cara e que continha extraordinárias fotos deste país encantador, tudo passou para os dominios do "alheio". resultado, com muita pena minha, não posso documentar os registos desta viagem. quanto à actuação tanto do grupo de musica tradicional de évora como do grupo "saca sons" da zebreira (idanha), uma única palavra, soberbo. houve entusiamo, houve fascínio, houve intercâmbio cultural e houve principalmente música com grande qualidade. bravo..bravo...como gritavam alguns habitantes locais...

sexta-feira, maio 15, 2009

POESIA NA SÉ DE IDANHA-A-VELHA




 (eddy, 2009)


aconteceu no passado mês de abril este extraordinário espectáculo. fico admirávelmente contente pela celebração da arte poética visual e sonora num espaço destes. este projecto poético denomina-se "in-di-vi-si-vel" (poema polifonia para vozes, violino, penduricalhos e processamento electrónico) e o grupo deriva da universidade de coimbra. tratou-se de uma celebração com essência, um convite aos dominios espirituais. confesso, tive momentos de emanações subtis, provocadas por essas pequenas viagens conduzidas por multiplicidades de sons espiritualizados e respirados nesta conjugação histórica e arqueológica deste espaço mágico. seria fantástico se estas iniciativas ocupassem outros espaços mágicos do concelho e que fossem resultado de uma lógica de cooperação artística. seria extraordinário, um concelho inteiramente dedicado por um periodo de um ano (ou mais) às artes poeticas...
...celebre-se música sábia..

quarta-feira, maio 13, 2009

MEMÓRIAS: FOME E FARTURA

Monsanto, 2008. Arca de cereais.


"Naquele tempo havia tanto trigo, eram às dezenas e dezenas de moios de trigo e a gente passava fome. Agora já não há trigo é só mato e anda tudo com a barriga cheia. Agora nem os cães comem pão." (J. A., Rosmaninhal)

sábado, maio 09, 2009

CADERNO DE VIAGEM

(explicação do funcionamento de um complexo moageiro tradicional em Burbia, Espanha)

em 2006 fiz uma viagem mediúnica. desprovido de qualquer equipamento tecnológico, fui registando tudo num caderno de viagem. foi de facto um exercicio notável. desenhei estruturas tecnológicas, engenhos, caminhos, portas tradicionais, fechaduras, etc.. penso que aprendi a manejar o rudimentar olhar e a dedicar tempo e treino à tão preciosa observação. metodologicamente, um treino imprescindivel. 

AMANHECER...


(eddy, 2009)


amo os amanheceres em idanha-a-nova...

(foto Eddy, 2009)

o séquito dos vagabundos andou por aqui e eu apenas sei que hoje é domingo por que houve alguém que admirou uma coluna romana e soletrou um sábio alfabeto desprotegido: uma coluna divide-se em três partes: capitel, fuste e base...e olhou-nos nos olhos com o lume dos anos da grandiosa solidão. ali mesmo lembrei-me de nietzsche: "um só está sempre a mais junto de mim, assim pensa o solitário". andamos mais uns quilometros e junto de uma sagrada oliveira, alguém com o coração florido disse: esta é a oliveira do abraço. fez-se silêncio e o domingo ouviu-se nos sinos da anónima tarde. uma imensa seara florescente brotava viúva. dissemos nós, os vagabundos: aleluia...

quinta-feira, maio 07, 2009



lançar pétalas de rosa vermelha ao cortejo, outro
 elemento que conota a celebração das flores.

segunda-feira, maio 04, 2009

MONSANTO. FESTIVIDADES

mulher que carrega o tradicional "pote de flores".
ascensão do cortejo.
dois "emblemas" cultuados ("o pote de flores" e o galo de prata relacionado com o concurso da aldeia mais portuguesa).
chegada do cortejo à capela da N. Senhora do Castelo.


(cont. da visita temática) 

A festa


chegado o rancho folclórico e a mulher que carrega o tradicional "pote de flores", seguimos este ancestral cortejo até ao alto das muralhas do castelo. sobre esta festividade sabemos que é celebrada no dia 3 de maio e é uma das mais emblemáticas da freguesia de monsanto. trata-se da festa da Divina Santa Cruz, Festa do Castelo ou simplesmente Festa do Pote. o ritual inicia-se ao final da manhã, com as mulheres trajadas com vestes tradicionais e coloridas.

"das arcas saem os saiotes e garridos xales, as fitas adamascadas com que ligam as tranças enroladas em martelo; as casacas de veludo e renda" (Buesco, 1984:66).

congregam-se para organizarem a procissão em honra da Senhora do Castelo, padroeira da povoação. Na cabeça, uma das mulheres, transporta um pote de flores. dizia-se que antigamente cabia a cada uma de cada rancho levar o correspondente pote.

"uma de cada rancho transporta à cabeça um pote caiado de branco, profusamente ornamentado e cheio de flores" (id., p. 66).

ascendem ao cimo do morro com o (s) pote à cabeça, atrás seguem em cortejo festivo o resto da povoação. pelo íngreme caminho tocam adufe e entoam cânticos alegres em honra da Senhora do Castelo alternados de outros mais tristes em honra da Santa Cruz (Jesus Morto). pelo caminho algumas das mulheres acompanham o cortejo tocando adufe, outras agitam as remotas marafonas (bonecas com armação em cruz e com trajes tradicionais coloridos). chegadas ao alto, (este ano) efectua-se uma missa, seguida da respectiva procissão com a N. Senhora em torno da capela. no final do dia, o grupo vai em cortejo novamente até ao ponto mais alto das muralhas e é então lançado o pote para o abismo, ouvindo-se um solene grito "aí vai o pote".

outras explicações:

Maria Leonor Buesco

"...esta celebração assenta sobretudo numa tradição pagã, isto pela evidência dos vestígios da glorificação do Maio. tendo sido cristianizada e nacionalizada pela sobreposição da Lenda do Cerco.

Lenda do Cerco

Segundo uns os Castelhanos, segundo outros os Mouros, ou ainda os Romanos, sitiavam o Castelo que a própria Natureza parecia dotar de inexpugnabilidade. Nunca os sitiantes chegariam à posse da fortaleza, nunca poderiam escalar os seus muros e perder-se-iam pelos meandros pedregosos, caindo nas ciladas que os sitiados preparariam escondendo-se em cada brenha e em cada gruta. Os inimigos, porém, Castelhanos ou Mouros, esperavam que a fome vencesse o Castelo erguido sobre as rochas – e, de facto, os celeiros iam-se pouco a pouco esgotando. Sete anos, diz a tradição, durou o cerco – sete anos de muda resistência e muda expectativa; e, por fim, dentro do Castelo nada mais havia que um alqueire de trigo e uma bezerrinha. A fome alastrava e a perda era inevitável. Surgiu, porém, o estratagema salvador: uma velha, com a sabedoria dos seus muitos anos, sugeriu que se desse todo o trigo à vitela e se lançasse do ponto mais alto do Castelo, sobre o acampamento dos inimigos, como sinal de abundância. Assim fizeram. Desfazendo-se sobre as rochas, a bezerra mostrou o ventre repleto de bom trigo – demonstrando que uma protecção, sem dúvida sobrenatural, abastecia os celeiros e os estábulos do Castelo…Isto foi no dia 3 de Maio – e os inimigos, depois de sete anos de espera infrutífera, levantaram o cerco. Deste então, nunca mais houve interrupção na Festa de Santa Cruz

(...) não nos parece deslocado, no entanto, chamar a atenção para a relação que pode haver entre a festa de Maio e os seus ritos de abundância, prazer e força da natureza e uma quadra que se encontra no cancioneiro local, rica, na sua concisão, de elementos etnográficos:

eu amei quem nunca amara
nem tal intento tevera:
fui a amar o rei das flores
no centro da primavera

esta quadra evoca, pois, todo o ritual da festa pagã, com a escolha do Maio - rei das flores" (1984, pp. 66-67).


Moisés Espirito-Santo

"Em Monsanto (...) é a festa de Adónis não cristianizada. digamos, antes de mais, que as várias Senhoras do Castelo, representadas como uma matrona, com uma coroa em forma de torre e na mão uma romã, não se relacionam com fortificações mas com comunidades de que são simbolos; são, isso sim, derivações de Cibele ou da Deusa Síria" (1988, pp. 96-97).


trata-se sem dúvida de um ritual com elementos extraordináriamente ricos: flores, trajes coloridos, cantos/prantos, toques de adufes, marafonas. porém, realço aqui também o papel da encenação da politica do Estado Novo nesta mesma festividade. hoje, é bem visivel, integrado neste mesmo cortejo, o "totem" do distinto concurso da aldeia mais portuguesa. neste mesmo cortejo que ascende ao cume, este "emblema" encabeça o respectivo cortejo e é exibido ao mesmo nivel de qualquer dinvindade, tornando-se também num simbolo sagrado a ser cultuado.  

...a visita temática terminou aqui, no seio deste imponente monte, que teima em continuar a ser cultuado...



Bibliografia

BUESCO, Maria Leonor Carvalho (1984) Monsanto. Etnografia e Linguagem, Lisboa: Editorial Presença.
ESPIRITO-SANTO, Moisés (1988) Origens orientais da religião popular portuguesa, Lisboa: Assírio & Alvim.

MONSANTO. FESTIVIDADES

vislumbre do Monte Santus a partir do lugar de S. Pedro de Vir-a-Corça.
(visita temática: à descoberta de Monsanto) desvendando segredos pela malha urbana.
a magnifica e imponente Torre.
momento de desfrute com os extraordinários bobos medievais.
chegada do rancho folclórico de Monsanto, acompanhado da mulher que transporta o "pote das flores" que será lançado do alto das muralhas do castelo.



visita temática: à descoberta de Monsanto
(municipio de Idanha-a-Nova)

iniciamos a visita às 8. 30 da manhã. saímos do largo da relva e fomos na direcção de S. Pedro de Vir-a-Corça. pelo percurso vislumbramos a admirável arquitectura tradicional envolvente e a ainda vicosa vegetação, com especial destaque para a autócne (antigos carvalhos e castanheiros). chegados ao mágico lugar de S. Pedro, efectuamos uma visita à remota capela e aqui procedeu-se às devidas explicações e enquadramentos: o Dr. Cristovão (arqueólogo) explicitou um conjunto de interessantes matérias relacionadas com a genese historico-arqueológica do próprio lugar onde nos encontravamos (S. Pedro de Vir-a-Corça) assim como sobre as próprias origens da humanização do Monte Santus (Monsanto). a mim, coube-me essencialmente falar sobre o acontecimento ritualístico da "Festa do Castelo", ou seja, o cortejo até ao alto das muralhas do castelo (pois iríamos assistir mais tarde). tentei sobretudo destacar a orgânica deste mesmo cortejo, explicitando a evidência de um conjunto de elementos extraordináriamente ricos e esclarecedores de ancetrais cultos pagãos. falou-se ainda do processo histórico ligado ao "concurso da aldeia mais portuguesa" (1938). daqui ascendemos o íngreme monte santus para adentrarmo-nos novamente nas malhas da antiga aldeia. nestas, o guia foi o dr. Cristovão que desvendou alguns dos seus segredos. para relaxar e colmatar o compasso de espera do ritual do cortejo do "pote das flores", contamos com a fantástica representação dos bobos medievais e de um pequeno reforço alimentar.