mulher que carrega o tradicional "pote de flores".
ascensão do cortejo.
dois "emblemas" cultuados ("o pote de flores" e o galo de prata relacionado com o concurso da aldeia mais portuguesa).
chegada do cortejo à capela da N. Senhora do Castelo.
(cont. da visita temática)
A festa
chegado o rancho folclórico e a mulher que carrega o tradicional "pote de flores", seguimos este ancestral cortejo até ao alto das muralhas do castelo. sobre esta festividade sabemos que é celebrada no dia 3 de maio e é uma das mais emblemáticas da freguesia de monsanto. trata-se da festa da Divina Santa Cruz, Festa do Castelo ou simplesmente Festa do Pote. o ritual inicia-se ao final da manhã, com as mulheres trajadas com vestes tradicionais e coloridas.
"das arcas saem os saiotes e garridos xales, as fitas adamascadas com que ligam as tranças enroladas em martelo; as casacas de veludo e renda" (Buesco, 1984:66).
congregam-se para organizarem a procissão em honra da Senhora do Castelo, padroeira da povoação. Na cabeça, uma das mulheres, transporta um pote de flores. dizia-se que antigamente cabia a cada uma de cada rancho levar o correspondente pote.
"uma de cada rancho transporta à cabeça um pote caiado de branco, profusamente ornamentado e cheio de flores" (id., p. 66).
ascendem ao cimo do morro com o (s) pote à cabeça, atrás seguem em cortejo festivo o resto da povoação. pelo íngreme caminho tocam adufe e entoam cânticos alegres em honra da Senhora do Castelo alternados de outros mais tristes em honra da Santa Cruz (Jesus Morto). pelo caminho algumas das mulheres acompanham o cortejo tocando adufe, outras agitam as remotas marafonas (bonecas com armação em cruz e com trajes tradicionais coloridos). chegadas ao alto, (este ano) efectua-se uma missa, seguida da respectiva procissão com a N. Senhora em torno da capela. no final do dia, o grupo vai em cortejo novamente até ao ponto mais alto das muralhas e é então lançado o pote para o abismo, ouvindo-se um solene grito "aí vai o pote".
outras explicações:
Maria Leonor Buesco
"...esta celebração assenta sobretudo numa tradição pagã, isto pela evidência dos vestígios da glorificação do Maio. tendo sido cristianizada e nacionalizada pela sobreposição da Lenda do Cerco.
Lenda do Cerco
Segundo uns os Castelhanos, segundo outros os Mouros, ou ainda os Romanos, sitiavam o Castelo que a própria Natureza parecia dotar de inexpugnabilidade. Nunca os sitiantes chegariam à posse da fortaleza, nunca poderiam escalar os seus muros e perder-se-iam pelos meandros pedregosos, caindo nas ciladas que os sitiados preparariam escondendo-se em cada brenha e em cada gruta. Os inimigos, porém, Castelhanos ou Mouros, esperavam que a fome vencesse o Castelo erguido sobre as rochas – e, de facto, os celeiros iam-se pouco a pouco esgotando. Sete anos, diz a tradição, durou o cerco – sete anos de muda resistência e muda expectativa; e, por fim, dentro do Castelo nada mais havia que um alqueire de trigo e uma bezerrinha. A fome alastrava e a perda era inevitável. Surgiu, porém, o estratagema salvador: uma velha, com a sabedoria dos seus muitos anos, sugeriu que se desse todo o trigo à vitela e se lançasse do ponto mais alto do Castelo, sobre o acampamento dos inimigos, como sinal de abundância. Assim fizeram. Desfazendo-se sobre as rochas, a bezerra mostrou o ventre repleto de bom trigo – demonstrando que uma protecção, sem dúvida sobrenatural, abastecia os celeiros e os estábulos do Castelo…Isto foi no dia 3 de Maio – e os inimigos, depois de sete anos de espera infrutífera, levantaram o cerco. Deste então, nunca mais houve interrupção na Festa de Santa Cruz.
(...) não nos parece deslocado, no entanto, chamar a atenção para a relação que pode haver entre a festa de Maio e os seus ritos de abundância, prazer e força da natureza e uma quadra que se encontra no cancioneiro local, rica, na sua concisão, de elementos etnográficos:
eu amei quem nunca amara
nem tal intento tevera:
fui a amar o rei das flores
no centro da primavera
esta quadra evoca, pois, todo o ritual da festa pagã, com a escolha do Maio - rei das flores" (1984, pp. 66-67).
Moisés Espirito-Santo
"Em Monsanto (...) é a festa de Adónis não cristianizada. digamos, antes de mais, que as várias Senhoras do Castelo, representadas como uma matrona, com uma coroa em forma de torre e na mão uma romã, não se relacionam com fortificações mas com comunidades de que são simbolos; são, isso sim, derivações de Cibele ou da Deusa Síria" (1988, pp. 96-97).
trata-se sem dúvida de um ritual com elementos extraordináriamente ricos: flores, trajes coloridos, cantos/prantos, toques de adufes, marafonas. porém, realço aqui também o papel da encenação da politica do Estado Novo nesta mesma festividade. hoje, é bem visivel, integrado neste mesmo cortejo, o "totem" do distinto concurso da aldeia mais portuguesa. neste mesmo cortejo que ascende ao cume, este "emblema" encabeça o respectivo cortejo e é exibido ao mesmo nivel de qualquer dinvindade, tornando-se também num simbolo sagrado a ser cultuado.
...a visita temática terminou aqui, no seio deste imponente monte, que teima em continuar a ser cultuado...
Bibliografia
BUESCO, Maria Leonor Carvalho (1984) Monsanto. Etnografia e Linguagem, Lisboa: Editorial Presença.
ESPIRITO-SANTO, Moisés (1988) Origens orientais da religião popular portuguesa, Lisboa: Assírio & Alvim.