sábado, agosto 15, 2009


estou numa casa arrombada e totalmente escancarada para a grande noite e o relógio de parede há muito que parou. a barba cresce e acrescenta-me algum misticismo. a estrelinha dorme como um anjo no seio de um sofá semeado no universo dos sonhos. está calor e tenho vontade de ler henri miller. escolho o "Trópico de Câncer". a noite consome-se nesta cinza opaca. de vez em vez observo as estrelas cintilantes. um pensamento: um homem ainda pode observar as estrelas de borla. virão dias em que teremos que pagar cada piscadela de olho às estrelas a um euro (filhosdaputasurgemeestapalavradeimediato). continuo a ler henri miller e o feitiçeiro escreve "as pessoas são como piolhos: introduzem-se sob a pele e enterram-se lá. coçamos e coçamos até fazer sangue, mas não nos livramos permanentemente deles. aonde quer que vou as pessoas estão a complicar a vida. toda a gente tem a sua tragedia pessoal. já está no sangue: infelicidade, tédio, desgosto, suícidio... a atmosfera está saturada de infortunio, frustração, futilidade...coça e recoça, até não restar pele. no entanto, o efeito que isso exerce sobre mim é inebriante. agrada-me, em vez de me desencorajar ou deprimir. choro por mais e mais infortunios, por maiores calamidades e por fracassos mais estrondosos. quero o mundo todo destrambelhado, quero toda a gente a esgatanhar-se até à morte" (pp. 15-16). levanto-me e em silêncio aplaudo. ouço tom waits "chocolate jesus". eis-me no parapeito da mesa a escrever merdas. contos alucinates. poesias-cadaver. frases-moribundas.

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