(lauren nassef)
uma vez cruzei-me com um cão "super-vagabundo" numa rua qualquer da vila. era novembro e fazia frio. o cão caminhava profundamente emergido num estranho transe. aproximei-me e silvei aqueles alfabetos caninos que todos nós julgamos saber. estancou aquela estranha e mediúnica marcha e virou a cabeça para o lado sonoro onde eu gesticulava como um louco. ficou ali uns minutos naquela decifração analfabetica. aproximei-me e vi a profundidade magistral do seu olhar. naquele olhar não existia nada. foram os olhos mais negros e vazios que alguma vez vi. estava completamente perdido no mundo. tinha fome e já não tinha vontade de comer. queria simplesmente desaparecer. eclipsar-se. apodrecer numa qualquer berma de um velho caminho. percebi isso mesmo e nunca mais me esqueci do seu olhar profundamente triste e mortificado. chorei e ele percebeu que chorava por ele. ganiu e continuou a seu triste destino. hoje tornei a vislumbrar esses mesmos olhos enquanto me via ao espelho.
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