(Ti maria, Monfortinho, 2008)
o adufe, esse ancestral instrumento musical oriundo do norte de africa, é hoje em toda a beira baixa um simbolo identitário, fruto de inúmeras tentativas de activação patrimonial. A ele estão ligadas as festas sagradas e profanas, os interiores domésticos, a construção da alteridade, a construção de genero, as activações politico-patrimoniais, enfim, ele é o cerne dos discursos em torno das identidades ditas raianas. contudo, convém referir que o adufe não se autodetermina a ele mesmo enquanto simbolo identitário e patrimonial, trata-se de uma representação para quem o enuncia. portanto, se estivermos atentos ao devir do tempo, vamos encontrar, nas diversas sociedades onde ele adquire protagonismo e funcionalidade, ou seja, nas ditas sociedades raianas, diversas formas de o representar, ou seja, de o "patrimonializar". a tendência paradoxal é "essencializar" este património e esta identidade como algo estático, enraizado desde a noite dos tempos nas respectivas regiões. aliás, como acontece com a maioria das activações patrimoniais, entendidas como um valor primordial que deve ser valorizado e difundido. como um bloco homogeneo, alicerçado nos discursos essencialistas da defesa e salvaguarda de algo que se pode perder para todo o sempre. Daí, a panóplia de comemorações, encontros gastronómicos, recuperação de mitos locais, festas, jogos e rituais populares. tudo isto e mais alguma coisa acende e activa todo um discurso de "invenção" de umas tradições. à luz destas narrativas efabulatórias de etnoculturas únicas, forjam-se importantes redes de negócios culturais. em suma e regressando ao simbólico adufe, como para além do seu toque encantatório e mistico, se constroi e se reinventa essa dita "comunidade imaginada", como ele se pode constituir enquanto objecto de estudo capital para o entendimento de uma história social.
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