terça-feira, fevereiro 10, 2009

LAVRAR A TERRA...

Rosmaninhal, 2007

todos os anos o Ti Joaquim teima em lavrar a sua terra, pois a terra que fica por lavrar transforma-se em terra de mato e terra de mato é sinónimo de desleixo, abandono, descuido. impressiona-me esta forma de lavrar, coloco toda a atenção nos gestos técnicos do Ti Joaquim para conduzir o Pardal que teima em sair fora da esquadria, talvez seja a idade que o torna mais teimoso, é como nós, refere o Ti Joaquim. da terra emana um forte odor que há muito não respirava. dizem que a terra ao ser lavrada sangra, então este é o odor do seu elegíaco sangue. apenas o ruido caracteristico da relha a esventrar a terra pauta este tempo de todos os vagares. é assim que a terra tem valor, é assim que a terra simboliza  o prestigio de uma casa (unidade familiar), mas como diz o Ti Joaquim "agora já ninguém quer saber da terra, está tudo cheio de mato e os donos só querem subsidios e passeio, trabalho tá quieto!" pois é, medito no valor simbolico e estrutural do uso e da posse da terra nestas sociedades do  pós-ruralismo.

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