sábado, março 05, 2011

TEMPO DE ENTRUDO

(Biblioteca Nacional)


o entrudo ou o carnaval inscreve-se nessas complexas celebrações ciclicas anuais e tal como reforçou Ernesto Veiga de Oliveira, a par com o natal e o s. joão, "são as que maior riqueza de aspectos, variedade de elementos e complexidade de significações apresentam" (festividades ciclicas, p.51 ). o ciclo do carnaval, embora seja efusivamente celebrado ao longo dos 3 dias que vão do domingo gordo à terça-feira gorda, conhecia o seu inicio, na maioria das regiões do país, com as celebrações dos "compadres" e das "comadres" (duas últimas quintas-feiras que antecedem o carnaval). durante este periodo carnavalesco, tudo ou quase tudo é permitido, são as denominadas licenciosidades carnavalescas que se traduzem em multiplas inversões, sátiras com conteúdos de critica social, etc. a máscara e o acto de mascarar permite isso mesmo, mudar de caracter, ser "outro" durante este mesmo periodo. pelas terras da beira, em particular pelo território do concelho de idanha-a-nova, já pouco ou nada resta desse imenso e rico repertório de práticas tradicionais, com as suas caracterizações próprias, com as suas definições pessoais e colectivas, os seus actos criativos, os seus traços significativos. num olhar de proximidade junto da extensa obra de jaime lopes dias (etnografia da beira) aparecem documentadas e circunscritas a este mesmo território algumas destas práticas tradicionais, hoje extintas:

- "caqueiradas" - "encherem velhas panelas ou potes de barro com latas, cacos velhos e atirarem-nas para dentro das casas que tenham a porta ou janela abertas nas noites de carnaval".

- "troça feita ao som dos chocalhos"

- "chorar o entrudo"


tudo se transformou, é um facto, em "paradas e desfiles ao jeito brasileiro", onde a componente monetária se impõem em todos os dominios e assume o geral das motivações criativas. muitas destas manifestações carnavalescas de cariz tradicional e que o território do concelho de idanha-a-nova conheceu, muito pouco foi devidamente registado e estudado. a titulo de exemplo: sobre o que era o "dia dos compadres" e das "comadres" quase nada ficou registado. hoje temos apenas a memória do que foi, mas não temos esse documento visual, esse estudo, onde através da imagem pudessemos compreender o que tinham sido essas formas de viver esta e outras celebrações, para que do mesmo modo, chegassemos a perceber a totalidade e a dimensão das transformações.pensemos seriamente nisto...

por outro lado e a titulo de nota, refira-se que as sociedades não são estáticas, elas avançam e recuam, confrontam-se, procuram-se, (re)criam-se, assim o confirmam as actuais lógicas relacionadas com as "paradas e os desfiles de carnaval" que por todo o país se celebram, com os seus "reis e rainhas" extravagantemente bem pagos, com todos os clientelismos apensos (politicos, economicos, ideológicos, etc). seria duplamente importante, um estudo de caracterização sociológica e antropológica sobre estas práticas e sua cartografia, conjuntamente com os seus recintos, associações, circuitos, etc, à escala do país e porque não à escala da peninsula ibérica?

*para finalizar e porque é carnaval, ninguém leva a mal...comam e bebam, porque vem ai a Quaresma com os seus magros e penosos jejuns.


Sem comentários: