sábado, fevereiro 21, 2009


(gabriel rolt)


todas as vezes que visito o cemitério passo por um dos lugares da minha infância. é uma rua inclinada, ampla, alva, com casas  assimetricas de um lado e do outro da rua. fazem ordeiras fileiras como se estivessem enfrentando-se em duras e ferozes lutas pacificas. enquadrado nesta cosmogonia intima está uma parede branca, lisa, de uma casa alta. contra ela chutava uma bola tardes inteiras até que o anoitecer era a voz da minha mãe a chamar-me para o aconchegado jantar ou era o roncar de um motor embrutecido do carro do meu pai e aquele sorriso sonhador hoje tantas vezes sonhado a levar-me a voar na sua direcção. preservo os cheiros dessa comida e o beijo a cheirar a oficinas longinquas do meu pai. é quando esventro essa mesma rua na direcção do cemitério que tudo acontece novamente. muitos são os dias que ali fico parado a olhar para essa infância e deixo o meu corpo ir ensanguentado na direcção do cemitério. hoje mesmo desejei essa comida de mãe, esse anoitecer e esse beijo a cheirar a oficinas longinquas do meu pai. mas a rua levou-me apenas ao cemitério.

3 comentários:

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

... o tempo nunca nos ultrapassa a memória, nunca !
abraço amigo !
________ JRMARTO

Anónimo disse...

Querido Eddy
De uma beleza arrepiante e doce.
Pedro Salvado

eddy disse...

"gracias" pedro.

gracias de verdade..