Rosmaninhal, 2005.
talvez, esta velha carroça do Ti Zé já não esteja no mesmo local estacionada. talvez já seja apenas um monte de sucata velha. pois a voraz dimensão do tempo tudo transforma, tudo inova, tudo adapta, etc. muitas destas velhas carroças ainda teimam em circular, em contrariar a alucinante economia do petroleo. no Rosmaninhal, assim como por todo este mundo rural, estes velhos hábitos de transporte estão praticamente no fim da sua funcional existência. contudo, estas velhas carroças ferrujentas, abandonadas, dilaceradas, esquecidas, nos recantos das velhas ruas das aldeias, participam com frequência na construção de uma memória recente ligada aos campos. participam como fortes elementos de activação desse acto de recordar, desse acto de reviver multiplas experiências de quotidianos de trabalho e de festa, de tristeza e de alegria, que são por si mesmo, elementos com uma carga identitária fortíssima. há uns dias apenas, ao analisar parte de variada informação recolhida no meus diários de campo, deparei-me com uma história de vida de uma destas velhas carroças, onde o informante me descreveu ao promenor toda a biografia da carroça, inclusive a sua possivel morte que se avizinhava. aqui estava, perante os meus olhos extasiados, a problematização de uma possivel ideia, embora ainda em estado puro, de um interessante projecto museológico.
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